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A TVI abriu as portas à família Telles de Britto no passado dia 7 à meia-noite. O programa “Giras & Falidas” chegou finalmente aos ecrãs de Queluz de Baixo, cumprindo uma promessa eternamente adiada, para gáudio dos espectadores e dos resultados audiométricos. A madame falida, a herdeira histérica e a filha trabalhadora, o merceeiro e a sempre prestável empregada deram-nos as boas-vindas à “Pensão das Falidas”, com “comida caseira e águas correntes quentes e frias”.
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Elas são muito giras, o problema é estarem falidas. Maria Manuela de Telles Britto (Carla Andrino) nunca se conformou com as consequências do desfalque financeiro praticado pelo seu defunto marido, que esbanjou tudo no jogo.
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Desde então, a vida de luxo que tinha foi aos poucos mirrando numa série de encenações e cerimónias de ostentação – enquanto a mansão das Britto (com dois tês, para conservar a nobreza do nome) ia sendo devorada pelo caruncho da madeira e pela humidade.
Na verdade, esta é a história muito simplificada da família que sempre mostrou mais do que aquilo que tinha, o núcleo cómico bem oleado que desanuviava o ambiente dramático da história de “Doce Tentação”, novela exibida entre 2012 e 2013 no horário-nobre do canal. O spin-off da novela foi proposto pelas atrizes e filmado em contrarrelógio, contrariando a negligência das produtoras nacionais em relação a esse formato.
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A série cómica, com direção a cargo de António Borges Correia, realização de Nuno Franco e produção de Miguel Cotrim, foi entregue à guionista Sandra Santos, da Casa da Criação. “Giras & Falidas” não apresenta um texto muito rico, mas despretensioso e livre de tentar alcançar grandes níveis de erudição.
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A linguagem visual é bastante diferente da novela e assenta noutro ritmo, mais pausado, circunscrito ao mesmo cenário, o que permite criar uma espécie de comédia de portas ou, melhor ainda, um quadro de rua típico de um espetáculo de Revista. A pensão é o local de passagem perfeito para os hóspedes e funcionários se cruzarem em episódios e mexericos vários, a que, obviamente, as Britto não são alheias.
O verdadeiro foco dos holofotes recai, necessariamente, sobre as interpretações exímias levadas a cabo pelas atrizes principais Carla Andrino, Jéssica Athayde, Laura Galvão e Sofia Nicholson. Carla Andrino consegue deliciar os espectadores com a sua personagem altamente trabalhada e dotada de uma margem de manobra caraterística. A brilhante atriz construiu uma princesa falida de primeira categoria: carismática, apaixonante, desequilibrada, histérica e comovente, dramática, ociosa, enfim, uma rainha sem trono.
O seu braço direito – no dinheiro e na falta dele – é a sua filha Diana de Telles Britto (Jéssica Athayde), personagem-cliché de uma jovem que nunca fez nada na vida, que se bamboleia nos saltos altos, estima as aparências e raramente usa os dois neurónios que tem. Está claro que a sobrevivência daquela família não poderia depender exclusivamente das madames de Sintra. Ana Luísa (Laura Galvão) é a outra herdeira da família depauperada.
Consciente das dificuldades e exigências da vida, procurou incessantemente um trabalho que lhe permitisse pagar o curso de advocacia e ainda equilibrar as finanças da “mansão”, ajudando a empregada Maria da Conceição Domingos (Sofia Nicholson) a governar a anarquia instalada. Laura Galvão deu um enorme salto qualitativo enquanto atriz, depois de vestir a pele da jovem estudante Madalena na sexta temporada de “Morangos com Açúcar”. A participação na novela, mais do que uma clara aposta por parte da direção de atores no seu talento e mestria, concedeu-lhe a oportunidade de construir uma personagem madura, problematizante e consistente, um caso de ficção inspirado no drama real dos jovens desempregados.
Ao elenco de luxo como fator determinante para o sucesso da série juntam-se os inúmeros tiques caraterísticos das personagens, sem os quais a composição final não teria tanto impacto. A comicidade é garantida através dos exageros, encenações risíveis, cómicos de linguagem e cómicos de situação mais coreografados, denotando uma veia mais infantil na construção dos diálogos e das cenas. Destaque ainda para a inclusão de algumas personagens de outros formatos cómicos de sucesso, como “Os Batanetes”, e a aparição dos apresentadores das manhãs da TVI e da personagem do cantor Pépito Martín, interpretada por José Carlos Pereira na novela de época “Anjo Meu”.
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“Giras & Falidas” parte de uma premissa simples e reúne os elementos necessários para que o público fique muito bem-disposto, sendo um formato especialmente próximo dos espectadores de “Doce Tentação”. “Menos, mas muito menos” tem sido o lema de vida da maioria dos portugueses nos últimos anos de crise económica, que tem obrigado a “travar, a travar, a travar” nas despesas. Talvez por isso o conjunto de 20 episódios tenha sido gravado tão rapidamente, de forma low-cost, e demorado tanto tempo a chegar à grelha da TVI.
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Elegantes, aperaltadas, simples e resilientes, as princesas de Ribeira das Flores têm os parentes na lama mas nem por isso ousam manchar a sua condição. Hóspedes e espectadores podem esperar o impensável enquanto visitarem a “pensão de quinta categoria” com um pé em Sintra e outro pé no balcão de insolvências. Elas podem não ter nada, mas sorriem só de pensar como a bancarrota pode ser “himalaias de chique” em Portugal.
Giras e Falidas, 2ª a 6ª, às 00h, na TVI.
DUPLO CLIQUE [1ª EDIÇÃO]
Uma Crónica de André Rosa