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A SIC quer mergulhar fundo. “Mar Salgado” estreou no dia 15 de setembro como o novo produto de ficção do canal e deliciou mais de um milhão de espectadores com as paisagens que sobrevoa. O pano de fundo é um ex-líbris, mas é a história que amarra o público à televisão. A novela assume-se “um espelho da realidade portuguesa, com dramas e conflitos contemporâneos entrecruzados com a luta de uma mulher que vem atrás dos seus filhos”. Perante a velocidade cruzeiro da ficção da TVI, os adeptos deste formato de entretenimento poderão encontrar na SIC outro tipo de ondulação e maresia.
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“Mar Salgado” aparenta uma certa simplicidade em termos visuais quando comparada às produções de Queluz, sobretudo no genérico. Ao som de um tema encomendado à banda “Amor Electro”, habitué da estação, a sucessão de imagens marítimas e costeiras não alcança o expoente audiovisual. Sem que tal seja um problema para aqueles que valorizam a qualidade do enredo em detrimento da estética, certo é que o canal tinha obrigação de implementar o produto de forma mais eficaz, antecipando a chegada da nova novela, se não é do seu interesse que o público pense que é “apenas mais uma novela” da noite.
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Embalados pelo hábito de (vi)verem histórias intelectualmente mais ou menos desafiantes, os portugueses continuam a satisfazer as necessidades dos canais privados, consumindo de uma empreitada os seus projetos audiovisuais. Pesando a previsibilidade e cansaço dos enredos da TVI, eis que a boia que prende milhares todas as noites ao televisor tem, do lado da SIC, mais hipóteses de flutuar: os enredos escritos pela equipa da SP Televisão (supervisionados por profissionais da Globo) devem-se a técnicas diferentes de construção das intrigas e personagens, algo que o público encara como fator distintivo.
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Sem surpresa, “Mar Salgado” dispõe de um elenco português, variado e competente, a legítima e estimada prata da casa. Pecou, porém, pela evidente incoerência das idades atribuídas às personagens de Margarida Vila-Nova e Joana Santos (fenómeno circunscrito ao primeiro episódio), convidadas a balançar o protagonismo com Ricardo Pereira e José Fidalgo. O núcleo principal de atores agarra bem os papéis e promete interpretações dramáticas e intensas, como visível em muitos momentos dos primeiros episódios. Além dos atores, esta novela respira a maresia de Setúbal e Troia. A voz de Mariza ressoa no verde e azul do Estuário do Sado, apregoa que o “trabalho dignifica” e enobrece as artes piscatórias. A cidade que cresceu de costas para o rio, e que aos poucos vem sendo dotada de novas infraestruturas patrimoniais e turísticas, chega a todo o país sem filtros, orgulhosa da sua condição. Não é novidade, mas é positivo: o país não é só Lisboa.
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A componente técnica merece igualmente destaque, pela realização e iluminação das cenas. A melhoria da qualidade de imagem, provavelmente impercetível à visão do público, foi garantida por um investimento em lentes fixas, com as quais metade das cenas estão a ser gravadas. A textura, sem dúvida mais cinematográfica, merece elogios em linha com a edição das cenas da corrida de motos e da festa que se seguiu.
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“Mar Salgado” luta por tornar infértil o solo de “Jardins Proibidos”, não deixando de ser curiosa a coincidência desta co-produção com a sequela da história que, há 14 anos, ditou a hegemonia da ficção em português de Portugal. Enquanto o país deprime com o outono precoce, a televisão generalista é um mar de rosas.