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TOGI - Capítulo 4

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"TOGI"é uma web-série original, da autoria de Ricardo Reis, que conta a história de Tobias, Otávia, Guilherme, Ivã e Ivo,  seis estudantes de uma universidade lisboeta. Todos eles são bem diferentes, mas têm algo em comum: as suas escolhas irão mudar para sempre as suas vidas.

[AINDA NÃO LESTE O CAPÍTULO 3? CLICA AQUI]

CAPÍTULO 4
TOBIAS

Era sexta-feira e Tobias chegava à faculdade, mas desta vez não ia para as aulas, ia-se baldar. Era mais um dia de praxe e este não era um dia qualquer, era o dia do rally-tascas. Tobias não sabia do que se tratava mas um dos veteranos logo tratou de lhe explicar. Era uma espécie de um jogo. Os alunos deslocam-se de bar em bar e em cada um têm de beber uma bebida alcoólica, aqueles que conseguirem chegar ao fim ganham.

Quando ia a chegar ao átrio da faculdade ouviu alguém chamá-lo. Era uma rapariga que ele não conhecia que estava sentada num dos bancos de pedra que se encontravam no portão da faculdade. Tinha rastas e estava a fumar um cigarro um pouco peculiar.


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  - Queres? – Perguntou a rapariga. – É um cigarrinho especial. Relaxa um pouco e faz-me sentir bem. Acho que também devias experimentar. Como te chamas? Odeio chamar caloiro aos do primeiro ano.
 

- Tobias!

- Tobias… muito bem. Eu sou a Camila mas nas praxes chamavam-me camela, gostavam de gozar com o meu nome. Tens ido às praxes? Eu fui mas aquilo é uma seca. Integração, fazer amigos, aumentar a entreajuda entre os colegas e aumentar o companheirismo. Tretas dos veteranos para poderem gozar com vocês durante o vosso primeiro ano de faculdade. Eu prefiro ficar aqui, a fumar enquanto observo este freakshow. Há aqui cada personagem sabes? – Viu Guilherme a subir as escadas. – Olha o rei do circo. Este gajo é uma autêntica pérola. Anda sempre de manga comprida seja inverno ou verão e anda aqui neste barracão vai fazer não tarda muito uma década. E o que se passou há 8 anos deixa muito a desejar.


- O que se passou há 8 anos? – Perguntou Tobias curioso.


- Lilia Fortes! Nunca ouviste falar? A rapariga que desapareceu na serra de Sintra há oito anos sem deixar rasto. Ela era a melhor amiga dele, ela e o Gustavo Lopes. E imagina o que aconteceu ao Gustavo Lopes?


- Também desapareceu?


- Não. Mas também não pode dizer nada mesmo que soubesse de algo, e sabes porquê? Porque nessa mesma altura apareceu de língua cortada e sem dedos!
Tobias estremeceu ao ouvir aquilo.


- E o Guilherme, bem o Guilherme saiu ileso, porque será?! Não é certo que eles estivessem estado juntos nessa noite em que ela desapareceu mas eles eram o cocó, ranheta e facada desta faculdade. Mas a polícia investigou e nada o incriminou mas a cara dele não me engana, ele é um psicopata. – Dizia enquanto via um casal subir as escadas. – E estes! O casal mais peculiar que conheço, mas a prova viva que os opostos se atraem. A Marília é talvez a rapariga mais extrovertida que existe aqui na GPO enquanto o Igor é um dos rapazes mais reservados que conheço. Mas mesmo tímido ele está sempre pronto a ajudar aqueles que precisam de ajuda nos trabalhos e nos exames. E além da faculdade ele ainda trabalha, pouco tempo livre tem aquele rapaz. Acredito que ele as vezes nem a tenha tempo para a comer ou então é um casal de rapidinhas!

 
As últimas palavras de Camila fizeram Tobias engasgar-se com a água que bebia. Tobias ainda não estava acostumado a ouvir uma rapariga aquele tipo de linguagem mas talvez fosse ele que vinha de uma terriola vinda do nada.  


 
Quando a rapariga de rastas compridas viu um homem com os seus trinta anos sair do edifício voltou a comentar

- Mais uma pérola neste oceano recheado de raridades. Apresento-te o Rodrigo, de certeza que o vais conhecer é ele que dá praticamente as aulas de georeferenciação e os sistemas de informação geográfica aos alunos do primeiro ano. O melhor aluno da universidade no seu tempo. Olha, foi colega do Guilherme, entraram no mesmo ano. Foi um rico em preciosidades esse ano de 2005. Não sei se sabes mas existem alunos que fazem os trabalhos a outros e pagam. Diz-se que o Rodrigo era um desses, mas só cobrava dinheiro aos rapazes porque às raparigas, bem às raparigas a cobrança era outra. – Dizia enquanto uma rapariga de pele morena e olhos verdes se aproximava. – Bem e parece que esses tempos de engatatão ainda não acabaram. Olha ali a Madalena do segundo ano toda derretida a fazer-lhe um acenar tímido. E ao seu lado vem o seu primo Ivã. Bem sobre ele não há muito a dizer, pelo menos que eu saiba a vida dele é uma seca. É segurança e muitas vezes faz serviço no supermercado daquele rapaz que passou aqui há pouco com a namorada. Mas ele sai daqui, trabalha e vai para casa. Não tem mulher nem filhos, deve ser uma seca de pessoa.


- Tobias! – Otávia chegou ao pé dos dois. – Vamos, as praxes vão começar.


- Olha a menina rica da faculdade! Ah, ouvi dizer que já não estás assim tão rica, rumores! Às vezes as notícias espalham-se ainda mais rápido que a diarreia, nem tempo tens para acender a luz. – Camila aproveitou para voltar a meter o seu cigarro na boca.


- Bom dia para ti também Camila. Pena teres uma média baixa, tens o perfil ideal para comunicação social, pareces aquelas revistas de cusquices, todos os dias tens uma nova para contar. Esta tarde vens ao Rally-tascas connosco?


- Claro! Adoro ver aqueles que se armam em campeões e bebem até cair para o lado, mas praxes esquece. Vão lá fazer flexões e borrar a cara toda aos caloiros atirar-lhes farinhas e dizer-lhes que se a integrar na vida académica e que vão ser amigos para a vida e blá blá blá.


Enquanto caminhavam para o resto do grupo das praxes Otávia falava com Tobias.


- Não ligues à Camila! Ela é completamente alucinada. Aquela erva que ela fuma deve afectar-lhe os neurónios todos.


- Eu não desgostei dela. Ela esteve-me a falar de alguns colegas nossos mas o que disse do Guilherme deixou-me um bocado assustado. Achas que ele teve alguma coisa a ver com o desaparecimento da tal rapariga e com o que aconteceu com aquele rapaz?


- Ainda ligas ao que ela diz Tobias!? O Guilherme pode ser frustrado e pode querer deitar abaixo as pessoas para se sentir superior mas não é nenhum psicopata. Eu não o conheço muito bem, também não gosto muito dele, aliás o único amigo dele é mesmo o Gustavo, ele aparece muitas vezes por aí para estar com ele. Por isso diz-me achas que se ele lhe tivesse feito alguma coisa ele alguma vez mais queria olhar para a cara dele? Não me parece.


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Quando chegaram ao pé do restante grupo da Praxe, Tobias juntou-se ao grupo de Caloiros, enquanto os veteranos se encontravam mesmo a sua frente. Tobias pôde constatar o grupo de caloiros era pequeno, não chegava às duas dezenas. Muitos não se interessavam por esta tradição académica mas também havia outra razão, o número de inscrições na faculdade era cada vez mais reduzido. A crise tem destas coisas. Alguns já tinham a sua t-shirt de praxe mas Tobias não, mas Otávia não tardou em dar-lhe uma. Trazia também um marcador vermelho para lhe pintar a cara. Enquanto ela lhe pintava a cara Tobias conseguia ver Guilherme a observar as praxes, estava um pouco afastado e de braços cruzados a observa-los a todos.


- Agora sim estás pronto para as praxes! – Disse Otávia com um sorriso.


- Muito bem meninos! E aqui estamos para o nosso segundo dia de Praxes! – Saudou Afonso. – Para começarmos quero ver-vos a saltar e a gritar o nome da nossa faculdade e de seguida o nome do vosso curso. Quero ver quem grita mais alto, se os TOGI ou os de Geografia.


Os de TOGI ganharam. Eram menos mas eram mais rapazes e tinham as vozes mais grossas. Depois disso treinaram o hino da faculdade e tomaram conhecimento que se iam deslocar para fora das instalações da GPO.


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- Não sei que ideias têm das praxes, mas aqui nesta faculdade elas servem para integrar os caloiros nesta grande família. – Começou Ivo por dizer. – O que vos peço é que olhem para o vosso colega do lado e cumprimentem-se. Depois disso quero que cada um dê um dos seus pertences à pessoa que cumprimentaram. Não há amizade sem partilha, não só de objectos, mas também de sentimentos.


Tobias cumprimentou o rapaz que se encontrava à sua direita. Eram ambos praticamente da mesma altura e também apresentavam o mesmo corte de cabelo. Chamava-se Gonçalo e era mais novo que Tobias dois anos. Também era do interior do País, mais propriamente da Beira Interior. Deu a Tobias um relógio que tinha no pulso enquanto ele lhe dera a pulseira que a sua madrinha lhe dera. 

- Agora vamos para o jardim do Campo Grande, mas tem de ser rápido porque quero-vos preparados para a tarde que se espera.



E lá foram. Sempre a cantar o seu hino. Os veteranos há frente e os caloiros atrás. Tobias reparou que Otávia deixou cair um papel ao chão então apanhou-o e correu para lho dar. 

- Hey Caloiro! Os caloiros nunca se misturam com os veteranos nos primeiros dias de Praxe. – Disse o Afonso. 


- A Otávia deixou cair este papel e eu quis dar-lhe. – Respondeu-lhe Tobias, enquanto Otávia se dirigiu até ele.


- Obrigado! – Agradeceu.


- Não pude deixar de reparar do que se tratava o cartão! Queres ser modelo? – Perguntou-lhe.


- Não sei se hei-de aceitar. Ontem conheci um homem num bar que me deu este papel. E não sei se não se pode tratar de alguma coisa duvidosa.


- Pois! Mas acho que devias telefonar-lhe, ele tem um cartão se calhar pertence a essa tal agencia que aí vem mencionada. E já ouvi dizer que muitos modelos são encontrados assim abordados nos sítios mais impensáveis como paragens de autocarros e isso. Pensa nisso.

 
Otávia sorriu e voltou para perto dos outros veteranos enquanto Tobias se juntou novamente a Gonçalo. Gonçalo contava-lhe que não estava a agradar-lhe muito o quarto que tinha alugado, as condições não eram as melhores. Então Tobias lembrou-se que o quarto da casa onde estava hospedado tinha duas camas e uma delas ainda estava vaga. Gonçalo até gostou da ideia de para além de colegas de faculdade serem colegas de quarto. E prometeu uma visita à casa no dia seguinte, já que este iria ser bastante preenchido.

Quando chegaram ao jardim do Campo Grande dirigiram-se para o lago.


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- Como sabem os banhos públicos agora estão na moda e nada melhor que acabar a manhã a mergulhar no lago. – Declarou Ivo. 


Todos tiraram os objectos que se podiam estragar e atiraram-se há agua. Estava fria mas até acharam divertido. Depois do almoço ocorreu o Rally-Tascas que os aqueceu ainda mais, mas não os deixou suficientemente satisfeitos, então os resistentes jantaram e acabaram por ir para um bar em Lisboa.
Tobias observava os seus colegas. Foi dos poucos caloiros que se deslocou com os veteranos. Para além dele e de Gonçalo não foram mais de quatro. Agora os veteranos foram quase todos, Guilherme e Camila incluídos. 


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O Guilherme não parecia tão agressivo naquela noite, talvez por já estar com uns copos a mais assim como Otávia, Afonso e Ivo. O Ivo e o Afonso eram bastante cúmplices, tão cúmplices que Tobias não conseguia perceber se se tratava de uma grande amizade ou de algo mais. Mas rapidamente percebeu que era só uma amizade quando viu Afonso apalpar uma rapariga loira e a falar-lhe ao ouvido. Talvez Ivo quisesse algo mais mas Afonso não parecia estar para aí virado, embora a cumplicidade entre ambos fosse visível. 

As horas foram passando e Tobias começou a ficar cansado e pensou apanhar um táxi para casa. Quando foi para se despedir de Otávia viu que ela continuava a olhar para o tal cartão que ele apanhara de manhã. 


- Devias ligar, sei que é o que queres!


- E o que te faz pensar que me conheces menino Tobias, és apenas um caloiro que chegou à meia dúzia de dias à faculdade vindo da parvalheira. Não sei se devo seguir os teus conselhos! – Brincou Otávia.


- Faz o que achares melhor! Agora vou-me embora. Queria-me despedir dos outros mas não os estou a ver e estou cansado, vou indo.


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Quando saiu do bar foi para o parque onde paravam os táxis. Mas num beco que havia entre o bar e o parque ouviu uns barulhos. A curiosidade foi mais forte e foi ver o que se passava. Foi então que viu o que não estava a espera. Afonso e Ivo estavam aos beijos. O vosso clube do bixedo, as palavras de Guilherme pareciam ecoar-lhe na cabeça. Mas Ivo e Afonso não eram os únicos que se encontravam no beco. 

A rapariga loira que falava com Afonso no bar também estava lá, de joelhos, enquanto os dois tinham as calças para baixo. Foi então que Ivo o viu, mas Tobias correu para apanhar o táxi, não queria falar com eles agora, não depois de ter visto o que viu. Não estava habituado a tais situações. Ivo ainda correu para o tentar apanhar mas Tobias apanhou o táxi antes que ele dissesse alguma coisa.

 

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Não perca o 5º episódio, na próxima terça-feira, para ler aqui no Fantastic e na página oficial do projeto, em www.facebook.com/pages/TOGI/277175702491216
 

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