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TOGI - Capítulo 7

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"TOGI"é uma web-série original, da autoria de Ricardo Reis, que conta a história de Tobias, Otávia, Guilherme, Ivã e Ivo,  seis estudantes de uma universidade lisboeta. Todos eles são bem diferentes, mas têm algo em comum: as suas escolhas irão mudar para sempre as suas vidas.

[AINDA NÃO LESTE O CAPÍTULO 6? CLICA AQUI]

CAPITULO 7
TOBIAS

  Tobias acordou com a luz do sol. O seu novo companheiro de quarto abrira os estores de propósito para o acordar.

- O que pensa que estás a fazer puto?! – Perguntou um pouco mal disposto por ter sido acordado daquela forma. 

- Prepara-te mas é, dorminhoco! – Disse Gonçalo. Agora, para além de colega de curso era também seu colega de quarto. 

Gonçalo estava mais excitado com o baptismo do que Tobias. Enquanto ele já tinha os seus padrinhos escolhidos Tobias estava indeciso. Otávia era a escolhida para ser a sua madrinha, mas não sabia quem escolheria para padrinho. A sua escolha recaia para Afonso, mas depois daquela situação constrangedora em que o apanhara com Ivo e a outra rapariga, evitava-o na faculdade. Não sabia o que dizer, não era normal no seu pequeno meio e na sua pequena mentalidade ver dois homens aos beijos e uma rapariga ajoelhada entre eles. 

- No que estás a pensar rapaz?! – Perguntou Gonçalo enquanto se limpava à toalha azul. – De certeza que estás a pensar na boazona da Otávia. Vê-se mesmo que estás a tentar saltar-lhe pra cueca puto!

- Oh maluco, vê se te calas pá! E estás a molhar o chão todo a Dona Gertrudes um dia manda-nos embora daqui aos dois e depois quero ver onde vamos arranjar um novo sitio para ficar tão em conta como este.

Tobias e Gonçalo prepararam-se e saíram assim que puderam e dirigiram-se para a faculdade. Era sábado e como não havia trânsito em poucos minutos chegaram lá. Mas ainda só uma pessoa tinha chegado à faculdade. Ivo. Tobias chegou a querer matar Gonçalo quando este decidiu ir para a casa de banho deixando-os a sós.

- Ainda bem que ficámos sozinhos! Precisamos falar. – Começou Ivo a dizer. Vinha trajado como qualquer um dos outros pastranos. – Sobre aquilo que viste naquela sexta-feira. Sei que nos tens estado a evitar desde esse dia, a mim e ao Afonso.

- Não vos tenho estado a evitar. – Disse Tobias com a voz um bocado a tremer e a ficar corado.
 
- Pois claro! Acredito que na tua terra não se vejam muito destas coisas mas na cidade vais ver isto, vais ver coisas piores até. A capital à noite tem o seu encanto. Festas, droga, sexo! Tens de aproveitar para experimentares isto tudo.
 
 Tobias não sabia mais como ficar ali a ouvi-lo. Estava mesmo sem jeito.
 
- Calma rapaz estou só a brincar contigo. Não precisas de experimentar drogas, é um mau vício, mas vai a muitas festas e tenta ter muito sexo, seja com mulheres, com homens ou com os dois. Eu tento viver a vida ao máximo. Aqui neste novo meio em que estás, que também não deve ser assim tão diferente do centro do distrito onde fica a tua aldeia as pessoas são rotuladas: umas são gordas, feias, putas, lésbicas, outros são gordos, paneleiros, emos, cromos. Todos aqueles que são diferentes dos ditos padrões normais da sociedade são ostracizados. Mas no fundo nenhum de nós é verdadeiramente normal. E existem pessoas que tentam esconder os seus defeitos para que não sejam rejeitados por essa mesma sociedade. As raparigas que têm mais peso às vezes usam uma cinta super apertada para esconderem a gordura. Outras deixam de comer e apanham doenças como a anorexia. Outros, os paneleiros como muitos lhes chamam tentam ao máximo esconder aquilo que não podem escolher porque não é uma escolha e tudo para não serem rejeitados pelo grupo de amigos!
 
- Mas tu és diferente! – Exclamou Tobias. – Não receias que a sociedade te exclua.
 
- Caro Tobias, em tempos preocupei-me com isso! Olha para o meu braço.
 
Tobias olhou para as tatuagens com caveiras e borboletas. Será isto que me queria mostrar?
 
- Não são as tatuagens rapaz, são as cicatrizes que tenho nos pulsos! – Na minha adolescência eu não era entendido por ninguém, era uma aberração, como alguns me chamavam no secundário. Eu já nesse tempo me vestia desta forma e desde cedo que pintei o cabelo com madeixas rosa. Sentia-me bem assim. Assim como me sentia bem no dia a olhar para os rabos das raparigas e no outro a imaginar qual seria o tamanho do pau dos gajos da minha turma. Como era diferente sempre fui maltratado. Sentia uma dor dentro de mim que só me fazia pensar em coisas negativas. Um dia um professor de artes visuais pediu que comprássemos um x-acto para usar na aula seguinte. Quando cheguei da papelaria com o x-acto fui até à casa de banho e espetei-o no meu pulso. Esvai-me em sangue. Se o corte fosse mais profundo tinha morrido disse-me o médico.
 
- Porque fizeste isso?! – Perguntou Tobias.
 
- Porque não estava preparado para esta sociedade. E também porque já estava em depressão. Felizmente agora consigo conviver melhor que nunca com tudo isto. Naquela noite eu e o Afonso bebemos demais e ele tinha convidado aquela rapariga para ir com ele para casa e convidou-me a mim também. Ele não é gay ou bissexual, aliás aquele beijo que tu viste foi mesmo o primeiro que ele deu a um homem e diz que foi nojento. – Ivo riu-se. – Aquilo não devia ter acontecido ali. Mas depois remediamos o erro, lá fomos para casa dele e pronto. Mas sem mais beijos amaricados nem nada disso, o Afonso não é desses! Ele contou-me que querias que ele fosse o teu padrinho, mas que esta situação foi bastante desconfortável para ti, tanto como para ele foi ter os lábios dele encostados aos de outro homem. Eles devem estar quase a chegar, e depois já sabes que vai começar o baptismo, deixa-o ser o teu padrinho. 

Depois de acabar a conversa Ivo pegou no seu telemóvel e fez um telefonema.
 
- Vá Gonçalo já podes vir ter connosco.
 
Afinal era uma manobra para nos deixar sozinhos. Ivo falara com Gonçalo sobre o sucedido.
 
- Vá puto sei que é estranho, mesmo bué estranho ver dois gajos aos beijos mas tens de te acostumar.
 
- Por isso a pressa toda para me levantares! Isto já estava tudo delineado. Mas obrigado, finalmente já tenho o meu padrinho e a minha madrinha escolhidos.
 
Aos poucos os restantes veteranos e caloiros começaram a chegar. Quando Otávia chegou Tobias foi rapidamente ter com ela. Não falavam desde que a deixara em casa de Fernando. Ela tem andado um bocado triste.
 
- Anima-te, estás quase a deitar-me com uma garrafa de cerveja em cima da cabeça! – Disse-lhe em tom de gozo a tentar com que ela esboçasse um pequeno sorriso. – Como está a correr a tua carreira de modelo?
 
- Bem! – Mentiu-lhe Otávia, não o podia meter dentro de um jogo tão perigoso. – Mas ainda não fui chamada para nenhum anúncio. Mas mudando de assunto já escolheste o teu padrinho?
 
- Sim! Vou agora falar com ele.
 
E seguiu caminho até Afonso que se encontrava à conversa com Ivo.
 
- Olá Tobias! – Disse Afonso. – O Ivo já me esteve a contar sobre a conversa que tiveram. E que também já tinhas escolhido um padrinho.
 
- Sim! Ivo, espero que estejas pronto para me deitar com uma litrosa na cabeça! – Disse esticando o braço ao rapaz de cabelo espetado e com madeixas cor-de-rosa. O aperto de mão passou a um abraço profundo.
 
- Não me digas que também queres experimentar um beijo meu por isso escolheste-me para padrinho?! – Brincou Ivo
 
- Népia. Os beijos podes deixar para outros! – Disse Tobias num tom mais serio mas que acabou numa profunda gargalhada em uníssono com Afonso e Ivo. – A tua história deixou-me deveras surpreendido. És um lutador, segues em frente quando toda a gente te olha de lado por seres diferente. Admiro-te, e por isso acho que és ideal para me aconselhares neste percurso académico. 

Em pouco menos de uma hora já todos se encontravam nos jardins do Campo Grande. Não eram os únicos alunos de estatutos universitários que por lá se encontravam. Aquele era o sítio onde os veteranos das faculdades redundantes levavam os caloiros para fazerem algumas actividades. 

Naquele dia a maior parte estava a realizar o baptismo tal como iriam fazer os alunos da UAL GPO. Tobias foi o primeiro. Ajoelhou-se enquanto os seus padrinhos se encontravam ao seu lado. Ivo à sua direita e Otávia à sua esquerda. Ambos traziam uma garrafa de cerveja que foram despejando aos poucos na cabeça de seguida. Depois de se levantar os seus padrinhos abraçaram-no e tiraram uma foto, aquele momento jamais seria esquecido, pelo menos para Tobias.

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Não perca o 8º episódio, na próxima sexta-feira, para ler aqui no Fantastic e na página oficial do projeto, em www.facebook.com/pages/TOGI/277175702491216
 

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