"TOGI"é uma web-série original, da autoria de Ricardo Reis, que conta a história de Tobias, Otávia, Guilherme, Ivã e Ivo, seis estudantes de uma universidade lisboeta. Todos eles são bem diferentes, mas têm algo em comum: as suas escolhas irão mudar para sempre as suas vidas.
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CAPITULO 20
TOBIAS
Era sexta-feira. Faltava apenas uma semana para o primeiro semestre ser concluído e haver a interrupção de Natal para depois se iniciar a época de exames. Tobias e Gonçalo não tinham aulas de manhã, mas levantaram-se cedo por uma razão, as praxes. A opinião de Tobias em relação às praxes mudou por completo nos três meses que passara em Lisboa. Quando ouvia falar das praxes pelos noticiários ou lia nos jornais, as praxes eram violentas, onde os alunos com mais matrículas espezinhavam os caloiros. E a sua primeira impressão, a da praxe de Guilherme na casa de banho mostrou-lhe que podiam ser bem violentas. Mas Otávia, Afonso e Ivo fizeram ver que as praxes não são tão más como os meios de comunicação as faziam parecer. Às vezes poderiam existir casos de praxes violentas, ele próprio sofrera uma, mas a praxe é uma forma de integração. Através dela, Tobias conheceu alguns dos seus melhores amigos como Otávia, Ivo, Afonso e Gonçalo.
Foram dos últimos a chegar. Apanharam o autocarro tarde e ainda apanharam trânsito. Foram ter com Afonso e Ivo que estavam à frente dos caloiros.
- Caloiro Tobias e caloiro Gonçalo, isto são horas para se chegar? Chegaram quase quarenta e cinco minutos atrasados, por isso toca a fazer quarenta flexões, uma por cada minuto que se atrasaram.
Depois das flexões feitas, os dois juntaram-se aos restantes caloiros para ouvir Afonso que se preparava para falar.
- Muito bem caloiros, o primeiro semestre já está quase feito mas as praxes ainda vão a meio, até Maio vocês ainda serão caloiros e por isso ainda vão ter muito que sofrer. Hoje vamos meter a vossa cabeça num tanque cheio de água e ver qual de vocês é o que aguenta mais tempo sem respirar dentro de agua.
Ao ouvir as palavras de Afonso Tobias estava a ponderar se as praxes ainda seriam assim tão boas e estava com receio de o fazer. Lembrava-lhe aquilo que Guilherme lhe fizera no primeiro dia em que chegou ao GPO.
- Acalmem-se rapazes e raparigas, o Afonso estava a gozar com vocês. – Declarou Otávia.
- Então o que vamos fazer desta vez? – Perguntou rapidamente Gonçalo.
- Nós já fizemos com que a praxe fosse partilha quando vocês partilharam um objecto com outro caloiro, já evocamos o espírito de comunidade quando vocês escolheram os vossos padrinhos e madrinhas e foi realizado o baptismo. Então hoje vamos fazer uma coisa nova. Treinar o vosso espírito de entreajuda e trabalho em equipa. O trabalho em equipa é muito importante no nosso futuro, tanto académico como profissional. – Começou Ivo por dizer.
- E como vamos treinar isso? – Perguntou Tobias.
- Isso, meus amigos, é o que vão saber já a seguir.
E os estudantes caminharam em fila indiana, os pastranos à frente, os caloiros logo atrás deles, pelo centro de Lisboa. Pararam num velho edifício que se localizava na avenida de Berna. Tobias leu o nome do edifício e viu que se tratava de um lar de terceira idade.
- Vamos treinar o nosso trabalho em equipa ao conviver com velhotes? – Perguntou Gonçalo rapidamente.
- Não Gonçalo. Vamos treinar o trabalho em equipa pintando as paredes deste lar de terceira idade. – Respondeu Otávia.
- Isso mesmo! A nossa associação de estudantes voluntariou-se para ajudar a pintar este lar que precisa de algumas remodelações. É claro que não podemos fazer muito, mas pintar o edifício já é uma grande ajuda. E a praxe pode ser isso também, ajudar os outros. – Continuou Afonso. – Por isso hoje e amanhã iremos pintar as paredes de dentro deste sítio.
Na recepção do lar encontravam-se vários pincéis e outros objectos de pintura. Começaram por pintar as paredes da cozinha para estarem prontas para as cozinheiras prepararem o almoço para os idosos.
Enquanto pintavam, ouviam música e divertiam-se, uns pegando nos pincéis e pintando os colegas, outros escrevendo palavras nas paredes que faltavam pintar. Tobias nunca pensou que pintar podia ser tão divertido pintar. Afinal as praxes não eram bem aquilo que diziam. Não eram de todo, pelo menos no seu instituto.
Quando chegou a hora de almoço as cozinheiras prepararam uma refeição a contar com todos eles. O refeitório (a divisão que iriam pintar a seguir) era bastante espaçoso e todos couberam lá, quer os alunos da faculdade quer os idosos que se encontravam no lar. Tobias ficou frente a frente a Otávia. Sentia-se nervoso ao encará-la nos olhos e às vezes faltavam-lhe as palavras quando tinha de falar com ela. Sempre tinha tido um carinho especial por ela. Fora ela que o salvara da praxe abusiva de Guilherme no seu primeiro dia no GPO e para ele ela era a rapariga mais bonita da faculdade. Gostava dela mas não tinha coragem de lhe dizer, sentia medo de não ser correspondido. O seu melhor amigo, Gonçalo, era completamente o oposto. Naquele primeiro semestre arranjou logo uma namorada. Era do curso de direito e conheceu-a numa festa da faculdade de direito que foram perto do inicio do ano.
Depois do almoço prosseguiram as pinturas até ao final da tarde. No dia seguinte repetiram o mesmo ritual. Ao final da tarde todo o edifício estava pintado e era visível ver o sorriso no rosto dos idosos que viviam por lá. Alguns já nem tinham família e aqueles eram a sua única companhia. Havia um pouco de tudo naquele lar. Pessoas mais divertidas e extrovertidas, outras mais tagarelas e outras mais introvertidas.
Tobias ficou um pouco cansado por ajudar a pintar o lar de idosos mas quando saiu de lá trazia um sorriso no rosto, a sua missão estava completa.
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Não perca o 20º episódio, na próxima sexta-feira, para ler aqui no Fantastic e na página oficial do projeto, em www.facebook.com/pages/TOGI/277175702491216