TOGI - Capítulo 29

Era a época mais temida por muitos dos alunos do GPO, a época de exames. E para Igor era um dia decisivo. Era o exame da única cadeira que tinha pendente para acabar o curso além do projecto final de curso. Estava um pouco nervoso, se chumbasse corria o risco de ter de ir a exame de recurso e isso poderia significar que teria de ficar na faculdade mais um ano se chumbasse nesse exame também. Colocara o despertador para bem cedo mas o sono levou a melhor e acordou quase à hora que tinha de apanhar o autocarro para o GPO. Embora tivesse aproveitado a interrupção de natal para estudar nos tempos livres que eram poucos, aproveitou o silêncio da madrugada para fazer uma revisão da matéria por completo. Pelo caminho observou o exame do ano anterior com uma réstia de esperança que alguma das perguntas pudesse ser igual à deste ano.

Quando saiu do autocarro correu o mais depressa que conseguiu para o instituto para ainda chegar a tempo de arranjar um bom lugar para fazer o exame. Igor não gostava de se sentar nas filas de trás. Nessas filas tinha sempre um ou outro colega que não o parava de chatear com o objectivo de obter uma resposta a uma pergunta que não sabiam responder. Igor gostava mais da fila da frente, aí pelo menos não sofria desse constrangimento.

   

O exame era um pouco maior que o do ano anterior, mas tinha várias perguntas idênticas, o que foi uma dádiva para Igor que tinha respondido às questões na noite anterior. Então o exame correra-lhe na perfeição. Ao seu colega Fernando já não se podia dizer o mesmo. Fora apanhado com cábulas numa folha que dizia ser de rascunho e o seu exame acabara por ser anulado. Igor não gostava de fazer cábulas, preferia tentar entender a matéria do que passar a uma certa cadeira com uma baixa nota por ter levado auxiliares de memória.

    

O exame terminou à hora determinada pelo docente da área curricular e Igor saiu contente da sala. Já Marília, a sua namorada, não saíra com a mesma disposição.

    

- Correu-te mal? – Perguntou-lhe.

    

- Podia ter corrido melhor!

   

Para celebrar o fim da sua curta época de exames, Igor e Marília foram almoçar num pequeno restaurante que se localizava no fundo da rua do seu instituto. Como ementa pediram o prato favorito, Bacalhau com Natas e beberam uma coca-cola gelada para acompanhar. Enquanto almoçavam Marília falava-lhe dos exames que ainda lhe faltavam para concluir a sua época de exames. Ao contrário de Igor, Marília ainda tinha vários exames para fazer.

    

- Espero passar a tudo! – Confidencio-lhe a rapariga.

   

 - Vais ver que vais passar! – Disse-lhe pretendendo conforta-la.

    

Quando acabaram de almoçar Igor levantou-se para ir efectuar o pagamento mas sentiu uma tontura. Além da tontura sentiu o seu coração a palpitar e as suas mãos estavam a tremer mais do que o habitual.

    

- Estás bem? – Perguntou-lhe Marília. – Foi novamente aquilo que tens sentido nos últimos dias?

    

- Sim, uma coisa parecida.

    

- Acho que deverias ir ao médico, não é normal sentires-te assim de vez em quando. Pode ser alguma coisa grave. Devias descansar mais, andas sempre a correr de um lado para o outro, quando não estás na faculdade estás no trabalho. Tem sido o teu ritmo há quatro anos seguidos, vais acabar completamente esgotado.

    

- Tenho de fazer um esforço, também está prestes a terminar. Falta apenas o projecto final e tenho o diploma.

    

- E aí começas o mestrado e continuas no teu ritmo alucinante. Tens de parar para respirar ou qualquer dia não aguentas!

    

A conversa foi interrompida com o telefone de Igor a tocar. Era Guilherme. Não eram grandes amigos mas falavam-se e naquele ano Guilherme ia finalmente fazer o seu projecto de final de curso. Não que fosse terminar o curso naquele ano mas tinha menos uma cadeira para fazer.

    

- Ele quer que faças o trabalho de final de curso com ele não é? – Perguntou Marília de imediato.

    

- Sim, mas eu nunca iria ficar com ele no grupo. Iria fazer o trabalho todo sozinho enquanto ele se iria andar aí a passear pela faculdade. – Contestou Igor.

    

- Isso podes mesmo ter a certeza que era o que iria acontecer se ficasses no grupo dele. Mas como é que ele pode ser da tua turma no seminário se ele nem pertence a TOGI? – Perguntou Marília curiosa, pois quando Guilherme entrou na faculdade TOGI era um curso que ainda nem na mente dos seus criadores se devia encontrar.

    

- Pensava que sabias que ele trocara este ano de curso. Como muitas das cadeiras dos dois primeiros anos são iguais às do curso dele, ele trocou para TOGI, deve ser para ter um pouco de esperança em passar e sair do GPO de vez. – Troçou Igor.

    

- Ele já faz parte da mobília! – Concluiu Marília soltando os dois uma grande gargalhada.

    

Depois de pagarem a conta no restaurante foram até aos jardins do campo grande onde aproveitaram para namorar um pouco até Igor ir trabalhar. Sentaram-se num banco do jardim e enquanto Igor mexia nos longos cabelos de Marília ela estava encostada ao ombro dele. E ficaram assim por quase uma hora vendo as pessoas a passar, algumas pessoas vindo do trabalho ou indo para ele, outros trajados a caminharem para a faculdade ou gente a fazer ginástica. Mas para Igor e Marília o tempo parecia ter parado e por momentos o mundo deles era apenas feito por eles dois.

    

O tempo de lazer acabara ao final da tarde quando Igor teve de se deslocar para o seu trabalho. Trabalhava apenas quatro horas mas como já ia cansado às vezes o tempo custava-lhe a passar. Alguns dos seus colegas de trabalho não o percebiam. Achavam que ele estava a fazer um esforço tremendo para nada, não iria ter futuro, não na situação em que o país se encontrava. Mas Igor não pensava assim, ele preferia lutar para tentar ter uma vida melhor no futuro, se não conseguisse, paciência, ao menos tinha tentado, tinha lutado com todas as suas forças.

    

Quando o seu horário de expediente terminou rumou até casa, jantou e deitou-se na cama. Pensou como aquele dia tinha sido longo, como eram, aliás, a maioria dos seus dias, mas esboçava um sorriso no rosto. A sua vida corria-lhe bem, o exame tinha corrido bem, a sua relação com Marília estava melhor do que nunca e estava prestes a terminar o curso. Nada lhe podia estragar a sua felicidade.