
CAPITULO 30
TOBIAS
Era mais uma experiencia nova para Tobias. A época de exames tinha chegado e ele não tinha estudado o necessário para achar que ia ter boa nota. Ainda teve uma boa ajuda dos seus amigos que estavam no segundo ano do curso, o exame que tinham realizado no ano anterior. Mas nem isso lhe dava esperança para conseguir passar aquela cadeira que era considerada por todos os alunos a disciplina mais difícil do primeiro semestre e em que mais de metade dos alunos chumbavam há primeira vez que a tinham.
O céu negro avizinhava chuva forte. Até o céu me dá o mau presságio de como será este exame, pensava Tobias enquanto caminhava sozinho para o instituto. Gonçalo acordara cedo para estudar mais um pouco e saíra ainda antes dele acordar.
O vento também começava a soprar forte quando entrou para o GPO. As condições meteorológicas estavam instaladas para a tão badalada tempestade que iria chegar durante a tarde, deixando o distrito de Lisboa em alerta amarelo. A sua turma já estava praticamente toda à espera que o professor fizesse a chamada para poderem entrar no anfiteatro. Como aquela era uma cadeira que os dois cursos tinham de fazer estavam para entrar no anfiteatro mais de cem pessoas.
Quando se sentaram e estavam prontos para começar um clarão entrou pelas janelas da sala e ouviram um grande estrondo. A trovoada estava bastante próxima do local onde estavam a realizar a prova. A chuva era cada vez mais intensa e como e o professor tinha dificuldade em fazer-se ouvir. Quando deu as indicações que quase nenhum dos alunos ouviu por estar a chover torrencialmente iniciou-se a prova. Tobias não se conseguia concentrar de forma alguma. Para além de não perceber patavina das perguntas que estavam escritas no enunciado o barulho da chuva a bater no telhado de metal da faculdade não ajudava em nada.
Quando se passara cerca de quinze minutos uma aluna que se encontrava na outra parte da sala começou a gritar:
- Professor, parte do tecto caiu!
E caíra mesmo. O professor fora buscar rapidamente um balde mas o buraco no tecto era demasiado grande e o vento não estava a facultar a tarefa. Então o professor decidiu anular o teste e retirar todos os alunos do anfiteatro que começava a ficar alagado com tanta chuva que estava a entrar.
A chuva não parava. Parecia cair cada vez mais com intensidade. Desde que Tobias chegara a Lisboa que nunca tinha tido um dia de inverno tão rigoroso como aquele que estava a ter.
As árvores que se encontravam à entrada das instalações do GPO abanavam com o vento como se fossem meros espantalhos colocados numa plantação. O vento era bastante forte e parecia agravar-se a cada tempo que passava. A chuva também se tornava cada vez mais intensa e Tobias já nem conseguia ouvir os colegas que se encontravam mesmo a seu lado, só ouvia a chuva a bater no metal. A entrada da faculdade começou a ficar alagada e as funcionárias da limpeza não estavam a conseguir dar conta do recado sozinhas.
O director da faculdade não viu outra solução se não a de chamar os bombeiros. Não era só no anfiteatro que já chovia mas sim por quase todas as salas que constituíam o GPO. De todas as salas, a sala de informática era a que inspirava mais cuidados, mas felizmente a força da chuva ainda não tinha conseguido derrubar o telhado de metal que protegia essa sala. Mas as outras não estavam a ter a mesma sorte. Em dez anos que as instalações ali se encontravam e nunca tinha ocorrido uma situação como a daquele dia.
Quando os bombeiros chegaram o telhado da sala onde se encontrava o quadro eléctrico também já tinha cedido.
- Os alunos têm de sair todos daqui! – Declarou um dos bombeiros. – A água está a chegar aos fios eléctricos e pode haver perigo, podem ficar aqui electrocutados.
Essa declaração causou o pânico dentro do corredor onde se localizavam cerca de duas centenas de alunos. Começaram a correr para a rua mesmo chovendo torrencialmente enquanto uma dezena de bombeiros entravam na universidade tentando remediar a situação. Tobias não trazia chapéu-de-chuva por isso ficou todo molhado, mas o que o preocupava mais nem era o facto de estar encharcado, era o facto de o exame ter sido anulado. Teriam de voltar lá para repetir novamente o exame. Se por um lado era bom pois já sabiam com o que poderiam contar num próximo exame que se voltaria a repetir nos próximos dias, por outro era aborrecido por ia junta-los aos outros quatro que ainda tinha pela frente.
O tempo começou a melhorar faltavam dez minutos para as onze da manhã. Mas os estragos estavam feitos. Felizmente o telhado de metal que protegia a sala do quadro eléctrico não cedeu e já não existia perigo de se ser electrocutado. Mas algumas das salas não tinham condições algumas para que os exames fossem retomados naquele dia, provavelmente nem naquela semana. O anfiteatro em que Tobias realizara o seu exame estava completamente alagado assim como todos os enunciados que estavam nas mesas em que os alunos se tinham sentado. Para realizarem o exame naquela tarde os enunciados teriam de ser reimpressos e isso iria dar algum trabalho por isso os professores decidiram adiar a época de exames por uma semana para arranjarem o telhado que cedeu e prepararem-se para o exame que teve de ser adiado e para os que faltavam.
Sem exame, Tobias decidiu ligar a Otávia. Desde o churrasco de Natal que não estava com ela e sentia saudades dela. Combinaram encontrar-se num dos restaurantes que se localizava perto da faculdade pois a cantina também tinha sofrido com a chuva intensa que se fizera sentir de manhã.
- Uma boa tarde ao meu afilhado que mais parece um pintainho nessa roupa toda molhada! – Disse ela quando chegou perto dele.
- Não gozes, tivemos uma manhã bastante atribulada.
- Pois, já me estiveram a contar essas novidades. Mas ao menos pensa positivo, temos todos uma semana a mais para estudar para os nossos exames.
Continuaram a conversar sobre outros assuntos que não a universidade. Otávia perguntou como tinha sido o Natal e o Ano Novo de Tobias e ele perguntou-lhe o mesmo. A conversa estava a correr bem até que o telemóvel de Otávia tocou. Tobias viu que ela ficara radiante com o nome que vira no visor do seu telemóvel. Pediu-lhe desculpa e disse que tinha de ir atender o telemóvel lá fora. Quando voltou olhou para Tobias com um sorriso no rosto e os olhos a brilharem.
- Era o Alexandre, o actor que me ajudou naquele casting a que foste comigo. A minha vida vai mudar Tobias, ele vai-me ajudar e nós vamos conseguir.
Tobias não entendera nada do que lhe estava a dizer mas ficou um pouco triste com a situação. Gostava dela, mas estava a perder terreno para outra pessoa, Alexandre.