TOGI - Capítulo 32

Era mais um domingo, e para Madalena não almoçar novamente sozinha, Ivã fora até sua casa para partilhar com ela uma refeição que comprara num restaurante chinês perto da sua rua. Telefonou-lhe a dizer que ia até casa dela e para pôr a mesa para que a comida não arrefecesse. Quando lá chegou já estava tudo pronto e começaram a almoçar.
    

Enquanto almoçavam viam televisão. Estava a começar o noticiário com uma noticia de ultima hora sobre Fernando, o director do canal ITV e a sua alegada rede de prostituição de luxo.
    

- Posso-te contar um segredo? – Perguntou Madalena. – Mas não podes contar a ninguém.
    

- Podes! Eu sou bom a guardar segredos. – Respondeu-lhe Ivã enquanto comia. Guardo um bem grande há 8 anos, dizia só para ele.
    

- A rapariga que vês naquele vídeo é a Otávia! – Confidenciou-lhe a rapariga.
    

Essa declaração de Madalena apanhou Ivã completamente de surpresa, nunca pensou que Otávia estava ligada a um esquema daqueles.
    

- E o tal Fernando é primo do Guilherme!
    

- Estás a gozar?! – Esse pormenor interessava bastante a Ivã.
   

 - Não estou nada! Foi o Guilherme que planeou tudo para se vingar dela por causa das praxes.
    

Típico do Guilherme, ele consegue ser mais psicopata do que eu previa, pensava Ivã enquanto Madalena contava ao pormenor tudo aquilo que Otávia lhe tinha contado.
    

Quando acabaram de almoçar, levantaram a mesa, arrumaram a loiça na máquina de lavar e Madalena passou a tarde a ver episódios que tinha em atraso da sua série favorita, enquanto Ivã decidiu ler um livro, mas não se conseguia concentrar, estava a pensar em tudo o que Madalena lhe dissera e de como poderia ser útil contar a Otávia que o Guilherme matara o pai de Fernando. Isso iria causar o alvoroço entre os dois primos e podia beneficia-los a ambos. Foi então que se despediu de Madalena e quando chegou a porta do prédio pegou no seu telemóvel e digitou Otávia.
    

- Então Otávia, tudo bem contigo? (…) Precisava muito de falar contigo mas não pode ser pelo telemóvel, é muito importante para se dizer por aqui (…) Ok, eu vou agora a tua casa.
     

Otávia estava sozinha a ver televisão. Como a visita de Ivã foi tão inesperada, achou-a um bocado estranha.
   

 - Está tudo bem? Passou-se alguma coisa com a Madalena? – Perguntou a rapariga tentando saber a razão que o levou a ir a sua casa num domingo à tarde.
    

- Está tudo bem com ela. O que eu te quero falar é algo bem mais importante. Não a culpes, mas ela contou-me tudo sobre o escândalo da rede de prostituição de luxo. Eu prometo que não vou contar a ninguém.
    

- Aquela rapariga é uma desbocada, mas o que havemos de fazer. – Desabafou Otávia, soltando um sorriso triste.
    

- Pois, quanto a isso temos a mesma opinião, mas eu não vim aqui para falarmos da minha prima, vim aqui para faláramos do nosso inimigo em comum.
    

- Inimigo em comum? – Otávia começava a não entender o que Ivã queria dizer com aquilo.
    

- O Guilherme!
    

- O Guilherme também te fez mal?
   

- A mim não mas a uma pessoa que gosto muito sim, e tudo para esconder o seu terrível segredo, que matou o tio, o pai desse tal Fernando.
    

Otávia estava chocada e não estava a compreender nada do que Ivã lhe estava a querer dizer. Foi então que Ivã começou a contar-lhe a história toda desde o inicio, desde o que aconteceu na serra de Sintra há oito anos atrás até à vingança que estava a planear fazer para que Guilherme finalmente pudesse pagar por todos os seus crimes. No fim pediu à rapariga para jurar que não contava nada a ninguém, era muito perigoso alguém saber daquela história naquela altura, a altura crucial para que o seu plano desse certo.
   

- Esse tal Fernando, ele de certeza que te vai confrontar, ele vai descobrir que foste tu que o tramaste. E nessa altura tu tens um trunfo para o destabilizar ainda mais uma declaração que ele nunca pensaria ouvir! – Concluiu Ivã.
   

 - E achas mesmo que isso vai resultar? Será que a relação deles é assim tão boa para o destabilizar? – A cabeça de Otávia estava cheia de questões para as quais ela não encontrava resposta.
    

- Pensa um bocado Otávia, se a relação deles não fosse boa ele não se sujeitava a ser reconhecido naquele bar para obedecer a um capricho do primo. E se eles têm uma relação tão forte ele não sabe que o Guilherme matou o pai dele. É impossível!
    

Enquanto falavam o telemóvel de Otávia tocou. Era Fernando. Quando desligou disse.
    

- Era ele! Quer encontrar-se comigo amanhã.
   

- Vês?! Eu sabia que ele ia descobrir que eras tu que estavas nesse vídeo, ele devia saber que aquele rapaz era um cliente teu, dalguma forma ele deve estar ligado a tudo isso para que o nome dele nunca chegasse a ser mencionado, mas tu foste mais esperta.
   

 - E se ele me quiser fazer mal? – Otávia estava com um pouco de receio de se encontrar com o homem de meia-idade que lhe tinha infernizado a vida nos últimos tempos.
    

- Não te preocupes, eu irei contigo! – Confortou-a.
    

Depois de tudo delineado Ivã fora até sua casa. Quando chegou, dirigiu-se até à sua arrecadação para ver como estava Lilia. Aquele fim de ano no Algarve fez-lhe um pouco bem, parecia mais descontraída, menos triste e com vontade de fazer coisas como ver filmes ou ler livros. Não se podia fazer muito dentro de quatro paredes, mas actualmente Lilia tentava manter-se ocupada e não estar constantemente deitada olhando para uma fotografia do seu pequeno filho.
    

- Desculpa ter-te deixado sozinha todo o dia da minha folga, mas aconteceu uma coisa muito importante hoje. Arranjámos mais uma aliada que nos pode ajudar e muito a acabar com este pesadelo que tem sido a tua vida.
   

Lilia ficou reticente e escreveu no seu caderno, Não devias contar a ninguém
    

- Não te preocupes, eu confio bastante na Otávia, amanhã teremos o nosso primeiro trunfo lançado. Amanhã o primo do Guilherme vai saber que ele matou-lhe o pai.