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TOGI - Capítulo 34

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CAPÍTULO 34
GUILHERME


 Quando Guilherme viu que Fernando lhe estava a ligar ficou um pouco reticente. Eram primos mas não era hábito Fernando ligar-lhe durante o seu horário de trabalho.
    
- Estou, aconteceu alguma coisa? – Perguntou ao atender o telemóvel.
    
- Aconteceu alguma coisa? Tens sorte que não me poderei encontrar nos próximos dias contigo mas quando puder vamos tirar tudo a limpo, se é que ainda há alguma coisa que possas dizer em tua defesa. A Otávia e o amigo dela disseram-me e aquele teu amigo que apareceu cortado há oito anos atrás confirmou tudo meu grande cabrão! – Depois disto Fernando desligou imediatamente o telefone.
    
Guilherme não percebeu bem o que Fernando lhe estava a querer dizer, foi preciso pensar um pouco para chegar a uma conclusão. Mas conseguiu chegar lá, depois de pensar não achou difícil perceber o que tinha acontecido. A Otávia e o Ivã devem ter-se aliado contra mim e contaram tudo ao meu primo, só pode ser isso, a mente de Guilherme só conseguia associar isso. Esta conclusão deixou num misto de sentimentos. Sentia medo do que poderia acontecer a partir dali e raiva de Otávia e Ivã. Foi então que começou a pensar em um plano para se livrar definitivamente deles os dois. Conseguiu omitir o seu segredo durante oito anos por isso não seria difícil silencia-los aos dois, bastava ter um bom plano. Por isso num dos convívios que se realizaram na faculdade entre a interrupção de exames e o inicio do segundo semestre, aproveitou quando todos estavam distraídos para roubar a carteira de Otávia. Já tinha um plano em mente para acabar definitivamente com ela e a carteira era um objecto essencial para que tudo corresse como ele esperava. Mas quando estava a sair da sala onde os alunos costumavam guardar os seus pertences para não andarem carregados durante a festa foi surpreendido por Ivã.
    
- Então já vais? – Perguntou Ivã achando suspeito o facto de Guilherme estar naquela sala faltando ainda algumas horas para a festa acabar. Ivã sabia que Guilherme era sempre dos últimos a abandonar o átrio que ficava ao lado da associação de estudantes.
    
- Precisamos de falar! – Disse-lhe apenas. – Mas não falemos aqui que pode aparecer alguém.
    
- Porquê? Tens medo de que alguém oiça o que andaste a fazer nos últimos anos? Mas eu vou fazer-te a vontade.
    
Saíram da faculdade e foram para longe dos colegas para que nenhum pudesse ouvir o que diziam.
   
- Como pude ser tão estúpido! Devia ter-me certificado que a Lilia estava morta e não o fiz, deixei que o Gustavo a salvasse chamando o seu cavaleiro andante. Ela é a pedra no meu sapato, mas em breve deixará de o ser. E à conta disso perdi um dedo, tu cortaste-mo.
    
- E tu cortaste dez, ainda consegues levar a taça para casa! Tu és um psicopata mas agora sei como acabar contigo. Desiste Guilherme, o teu primo sabe de tudo e não reagiu nada bem ao que ouviu e não vai ficar parado.
    
- Nem eu! A Otávia está acabada e em breve serás tu!
    
- A Otávia acabada? Em breve o caso das prostitutas estará resolvido e ela poderá respirar de alívio, terá novamente uma vida calma e tranquila.
   
 - Tranquila não sei, mas calma não é o termo certo para descrever a vida que a Otávia vai ter nos próximos dias.
    
- E tu também não vais ter uns dias fáceis, o teu primo vai enfrentar-te, o mais certo é entregar-te à polícia e resolve finalmente tudo.
   
- Ivã, vives num conto de fadas? Achas que vos vou facilitar a vida. Nem a Otávia é a gata borralheira que vira uma princesa e nem tu és o cavaleiro andante que salva a rapariga da torre!
    
- Mas tu és um vilão e tanto! – Declarou Ivã.
    
- Se isto fosse um livro não tenho a mínima dúvida que o autor da história me descrevesse da mesma forma que me acabaste de descrever. Mas estamos na vida real, somos pessoas normais e eu só fiz o que fiz para me defender. A Lilia entendeu bem porque eu matei o meu tio, podemos dizer que foi em legítima defesa.
   
Mesmo com o frio que se fazia sentir, Guilherme tirou a camisola e a t-shirt que trazia e mostrou as cicatrizes que tinha nas costas. Ivã ficou chocado e percebeu um pouco a situação que levara à solução extrema que Guilherme escolhera para tirar o seu tio da sua vida.
    
- Mesmo com o que ele te fez tu não tinhas o direito de lhe tirar a vida. Pedias ajuda, fazias qualquer outra coisa mas matar não está certo!
    
- E o que ele me fez durante a vida toda está correcto? Eu era o seu saco de box. Sempre que ele chegava a casa bêbedo e me via chegava-se até mim e pontapeava-me depois pegava no cinto e me obrigava a tirar as t-shirts para me bater. Ele dizia que eu era a maior merda que havia no mundo que por causa de mim os meus pais tinham morrido, que eu era uma aberração que tinha sobrevivido. Foram anos e anos sempre naquele martírio que parecia não ter um fim à vista.
    
- Então decidiste matá-lo!
    
- Foi a solução mais eficaz para não ter de olhar de novo para a cara daquele cabrão! Mas tive medo de ser descoberto. Primeiro no dia em que morreu, que se soubesse que ele tinha sido envenenado, depois nos anos que se passaram. Quando a Lilia e o Gustavo descobriram aquilo que eu tinha feito, fiquei apavorado e bati-lhe com um pau na nuca como deves saber. Não queria matar mais ninguém mas não queria ser descoberto, por isso não vi outra solução se não silencia-lo de vez.
    
- Mas o que fizeste foi errado, todas as tuas acções têm tomado repercussões gigantescas, destruíste vidas, famílias, nada do que tu fizeste está certo! Eu sei tudo, vais tentar silenciar-me também?
    
O teu tempo lá chegará! Guardou Guilherme apenas para si.
    
- Não, não vale a pena, já deu para ver que tu és um adversário à altura. Tu não tens medo de agir para conseguires o que queres. Tiveste sangue frio para me cortares um dedo! – Mas será que alguma vez serias capaz de me matar? Pensou, mas não disse. – A conversa está muito pacata mas está na hora de ir. Tenho mais coisas a fazer e de certeza que tu tão ocupado como és também tenhas coisas para fazer! Manda cumprimentos meus à Lilia, estou mortinho para a ver!
    
- Os darei! – Respondeu Ivã à sua provocação.
    
Alguns dias passaram e a chamada de Fernando chegou. Decidiram-se encontrar num hotel por conselho dele para que os filhos do seu primo não tivessem de ouvir a discussão entre ambos. Fernando também concordou, não queria pôr os filhos e a mulher entre as suas desavenças. Então marcaram para o dia seguinte na pequena pensão onde se encontrou pela primeira vez com Otávia. Chegou um pouco antes da hora marcada e dirigiu-se até ao recepcionista. Àquela hora ele era o único funcionário da pensão. Quando chegou perto dele, mostrou-lhe quatro notas de quinhentos euros e disse:
    
 - Quer este dinheiro em troca de um segredinho?
   
 O homem ao ver o dinheiro não pensou duas vezes e trocaram algumas palavras. A pensão era velha e o salário que o homem recebia não era muito. Depois de Guilherme lhe dizer algo, Fernando chegou e subiram os dois para o quarto.
    
- Como foste capaz de matar o homem que te punha a comida na mesa! – Declarou Fernando quando entraram no quarto.
    
- O mesmo homem que me batia até me deixar com a pele em carne viva! – Lançou Guilherme para o ar.
    
- Era a bebida a falar por ele seu grande cabrão! Ele não estava nele quando te fazia isso, era a bebida que o fazia.
    
- Dizes isso porque não era a ti que ele batia! – Gritou Guilherme.
    
- Vais ser meu colega de cela, graças à merda dos teus planos estou tão lixado quanto tu!
    
- Não Fernando, tu estás mais lixado do que eu! Eu ganhei. – Disse tirando uma pequena navalha do bolso das calças. – Não devias menosprezar o inimigo. A Otávia tem de pagar pelo que tem feito e tu ias prender-me, é um dois em um! – Agora as luvas pretas que trazia começavam a fazer mais sentido. Perfurou Fernando no abdómen três vezes e deixou a arma do crime caída no chão. Depois disso atirou as cuecas que tinha pedido a Otávia na noite de Natal para junto da cama e a carteira dela mesmo junto da porta como se tivesse caído de uma mala quando ela estava a fugir.
    
Quando chegou a recepção disse para o recepcionista:
    
- Lembre-se do que me prometeu, que só entra naquele quarto quando a policia cá estiver! O cenário pode não estar do seu agrado. E não conte a ninguém que eu ca estive mas sim uma loira, se não o disser acaba por sobrar para si. – Disse Guilherme com uma calma assustadora.


 
Não perca o 3 episódio, na próxima terça-feira, para ler aqui no Fantastic e na página oficial do projeto, em www.facebook.com/pages/TOGI/277175702491216

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