
CAPTULO 39
GUILHERME
Guilherme estava feliz. Dois já estão, dizia para si enquanto desligava o seu portátil e retirava a sua pen do dispositivo, a mesma que inserira sem explicação aparente no computador pessoal de Igor. Agora só falta o Ivã. Mas de Ivã era um pouco mais trabalhoso de se vingar, pois era naquele momento impossível encontrar a peça fundamental para a sua vingança ao seu companheiro de faculdade. Era impossível saber o paradeiro de Lilia Fortes naquele momento. Ela poderia estar em qualquer local, mas só Ivã deveria saber onde ela se encontrava. A única forma de a descobrir era tornar-se na sombra do seu rival. Segui-lo para onde quer que ele fosse, saber tudo o que ele fazia durante e dia e durante a noite, saber toda as suas rotinas, assim um dia conseguiria chegar finalmente àquilo que mais queria, nem que isso demorasse anos até acontecer.
Durante toda a noite não pensou em mais nada a não ser na forma como iria iniciar o seu plano para encontrar Lilia. Foi difícil conseguir adormecer alguma coisa durante a madrugada que já ia longa. Tudo aquilo excitava-o. Guilherme gostava de uma boa caçada, ainda para mais se fosse para salvar a sua pele. Gostava de sentir toda aquela adrenalina, a mesma que sentiu quando esfaqueou o seu primo só para conseguir destruir Otávia que o confrontava sem mostrar medo. Era esse o maior defeito que podia encontrar numa pessoa, o de ter coragem de o arreliar, coisa que começava a ser habitual nos últimos tempos.
Levantou-se bastante cedo para um dia de aulas. Ivã era um aluno ajuizado que não faltava a praticamente aula nenhuma a não ser por razões laborais por isso Guilherme queria estar lá a tempo de se sentar ao seu lado ou atrás dele de forma a poder controlar todos os seus movimentos. Sabia que tinha de ser discreto, Ivã era uma pessoa inteligente e se soubesse que algo estava errado Guilherme poderia deitar tudo a perder. Não tinha muito tempo para conseguir silenciar aquele que se tornara o seu maior inimigo actualmente. Ele de alguma forma o iria levar a Lilia, Guilherme tinha a certeza disso.
Quando chegou à faculdade observou Afonso e Ivo que caminhavam trajados na sua direcção. Era mais um dia de praxes, se fosse um dos anos anteriores seria ele a coordenar as praxes mas eles tinham-no expulsado devido às suas atitudes agressivas perante as praxes. Um dia hei-de me vingar destes também!, pensou, mas quando chegou perto deles apenas disse:
- Então mais um dia de praxes! Assim é que é camaradas! No inicio nem gostei da ideia mas agora até vos agradeço terem-me expulsado da comissão de praxes. As minhas atitudes não eram as melhores e assim até fiquei com mais tempo para estudar e me tornar mais aplicado. Agora estou-vos totalmente agradecido.
Depois deste discurso pouco verdadeiro Guilherme seguiu caminho e sentou-se num banco ao lado da sala onde iria ter a primeira aula da manhã. Ao lado dele já estava sentado Ivã, a ler os slides do powerpoint que o professor iria apresentar na aula.
Depois deste discurso pouco verdadeiro Guilherme seguiu caminho e sentou-se num banco ao lado da sala onde iria ter a primeira aula da manhã. Ao lado dele já estava sentado Ivã, a ler os slides do powerpoint que o professor iria apresentar na aula.
- Então, como vais meu caro amigo! – Guilherme esticou a mão de forma a cumprimenta-lo mas Ivã não lhe deu qualquer tipo de confiança. Em vez disso disse:
- Sei o que fizeste com a Otávia. Foi um acto completamente desprezível, mesmo vindo de uma pessoa como tu. O que podemos esperar a seguir?
A tua queda, pensou mas não disse, em vez disso continuou com o seu discurso:
- Novamente essa conversa? Eu não teria coragem para matar o meu primo, coitado dele que sofreu nas mãos daquela desmiolada.
- Não desperdices o teu latim comigo Guilherme, tu sabes que eu sei quem tu és, é difícil conseguires-me enganar. – Disse Ivã enquanto se levantava do banco para entrar na sala de aula.
O primeiro dia não foi nada de especial para Guilherme. Ivã não tocara no seu telemóvel uma única vez durante as aulas e a seguir a elas fora para o trabalho de onde saíra para sua casa. Esse fora o único avanço que tivera no dia todo em que o seguiu. Guilherme não sabia onde Ivã morava, agora isso era mais um dado garantido, mais um ponto a seu favor, mas tirando isso nada de mais relevante se passara durante aquele dia. Os dias que se seguiram foram praticamente iguais. Ivã parecia ser um homem com rotinas muito fixas. De manhã ia para a faculdade, à tarde ia trabalhar, costumava passar na casa da sua prima Madalena e de um casal que Guilherme não sabia quem era e depois ia para a sua casa. Tinha uma vida completamente normal. Mesmo assim Guilherme não desistira, havia de haver um dia que os dois teriam de ter um momento em que conversavam.
Foi num dia algures no mês de Fevereiro que viu Ivã a entrar na faculdade e seguiu-o, mas viu-o a sair logo de seguida de telemóvel na mão para um beco, parecendo querer-se esconder de todos os alunos que estavam naquela hora a ir para o estabelecimento de ensino. Guilherme estranhou aquela acção de Ivã e seguiu-o sem que ele desse por isso. Podia ser aquela a sua oportunidade de ouro para descobrir algo mais do que as cenas rotineiras que Ivã fazia. Ivã fixou-se numa pequena parede de uma área onde os alunos raramente iam. Pelos gestos de Ivã, Guilherme apercebeu-se que ele estava a digitar um número no telemóvel, um número que provavelmente não tinha nos seus registos nem na lista de contactos mas que parecia saber perfeitamente.
Apanhei-te!, começou a esboçar um sorriso no seu rosto, enquanto ouvia o que Ivã dizia.
- Esqueci-me da chave em casa, vou passar aí pela hora de almoço para pegar para que não me abras a porta de casa à noite. Mas já sabes, só abres a porta quando o toque for persistente e eu tocar três vezes. Amo-te.
Finalmente Guilherme descobrira um pormenor interessante da vida de Ivã que ele omitia. Como pude eu ser tão estúpido, pensava enquanto raciocinava sobre aquilo que acabara de ouvir. A Lilia só pode estar na casa dele!
Não tinha a certeza se Lilia estava em casa de Ivã ou não, por isso a única forma que arranjou para ver se era na realidade a casa dele o local onde tinha deixado as chaves era ir até lá. Por isso nessa manhã não se dirigiu para as aulas mas sim directamente para casa do seu inimigo número um, afinal aqueles dias a segui-lo serviram de alguma coisa, sabia onde ele morava, sabia que a porta de entrada do prédio onde ele residia tinha problemas e por isso não fechava e sabia que ele morava na cave. Quando chegou à porta repetiu o procedimento que Ivã dissera ao telemóvel.
Cerca de cinco minutos depois a porta do apartamento de Ivã se abrira para ele.