
CAPITULO 42
GUILHERME
Quando Guilherme recebeu uma carta da polícia judiciária a pedir que se apresentasse na esquadra mais próxima para prestar depoimentos ele não percebeu do que se tratava. Depois de raciocinar um pouco pensou que se podia tratar da descoberta de Lilia. Por ser um dos melhores amigos dela na altura que ela desapareceu poderiam querer fazer mais algumas perguntas sobre isso por isso seguiu o mais descontraidamente para a esquadra onde sempre se dirigia desde que lhe cortaram o dedo médio. As deslocações às esquadras da judiciária tinham-se tornado uma rotina desde esse incidente. Felizmente para ele tudo isso estava prestes a terminar. Ivã estava preso e Lilia tinha medo dele, nunca se iria atrever a contar toda a verdade só para salvar o homem que amava. Guilherme conhecia Lilia e ela conseguia ser cobarde quando queria.
Ao chegar ao local foi directamente reencaminhado à já sua familiar sala de interrogatórios. Nela encontravam-se dois inspectores e a mesa onde se ia sentar para prestar algumas declarações sobre o que lhe iriam perguntar daquela vez. Pela primeira vez era uma surpresa o que lhe iria ser perguntado. Os polícias saudaram-no e Guilherme sentou-se enquanto um dos polícias falava e o outro anotava os depoimentos que ele iria fazer.
- Estes últimos tempos tem sido muito requisitado para falar connosco senhor Guilherme, mas com estes últimos desenvolvimentos era indispensável que nos voltasse a visitar. Começando pelo inicio faz alguma ideia do que o traz até aqui? – Começou por dizer o polícia que lhe fazia o interrogatório.
- Suspeito que seja pelo aparecimento da Lilia!
- E suspeita muito bem porque isso traz questões que nós queremos há muito ver respondidas. Se a Lilia estava em cativeiro como podemos constatar na semana que passou, como é que as impressões digitais dela estavam no pedaço de capa de traje que encontrámos no acampamento?
Logo na primeira questão Guilherme sentiu o cerco a apertar-se. A sua ânsia em vingar-se de Lilia e Ivã era tão grande que não pensou nos pequenos detalhes que podiam deitar tudo a perder.
- A Lilia era uma grande amiga minha e o Ivã poderia querer fazer-me mal a mim por isso. – Sabia que aquela declaração não fazia grande sentido mas foi a única coisa que lhe saiu na altura.
- E o Ivã iria querer fazer-lhe mal por conhecer a Lilia? Cortou-lhe um dedo por ser amigo dela? Por ela ter sido uma amiga colorida e isso ainda lhe causar ciúmes? Sim porque ainda não esquecemos as suas cicatrizes nas costas e o sexo sadomasoquista que houve entre vocês.
- Pode ser essa a razão! – Deitou Guilherme para o ar sentindo medo das perguntas que se podiam seguir. Pela primeira vez em muito tempo estava a sentir do rumo que as coisas estavam a levar.
- Pois! Quer que sejamos honestos consigo, Guilherme? Tudo nesta história toda nos cheira a esturro. Não só a história do acampamento mas principalmente o que se passou há oito anos na serra de Sintra, porque se foi o senhor Ivã que sequestrou ela não esteve convosco nesse local nessa noite por isso não existindo um terceiro elemento torna-o no principal suspeito
Guilherme entrou em pânico. Não tinha álibi possível. Caíra na sua própria armadilha.
- A Lilia esteve connosco nessa noite sim senhor agente. Tanto eu como o Gustavo já confirmamos isso.
- Pois o seu amigo que apenas consegue acenar com a cabeça e mostra medo no olhar. Oiça Guilherme, nós sabemos que esconde algo, só não conseguimos saber o quê e o porquê. Nós não esquecemos qualquer pormenor sobre a nossa investigação e temos vivo na memória aquele arsenal que foi montado no instituto onde estuda na festa de final de semestre. Existiam lá dois bonecos semelhantes ao Gustavo e à Lilia. Até atrevo-me a dizer que eles representavam mesmo eles dois, vai dizer-me que estou enganado senhor Guilherme? – O polícia não esperou a resposta dele para prosseguir o seu raciocínio que poderia ser a verdade do que se teria passado naquela noite. – Foi por ver aquela boneca loira na noite da festa que a primeira coisa que fizemos quando a senhora Lilia se dirigiu a este estabelecimento para falar sobre o sucedido foi ver a sua nuca e surpresa das surpresas, ela tem uma marca de um golpe deferido na cabeça. Isso faz-nos pensar em várias coisas, mas nenhuma me parece convincente. Pensámos primeiro que o que poderia ter acontecido no local fosse uma crise de ciúmes por parte do senhor Ivã e num ataque de fúria tivesse feito estes crimes horrendos. Mas o nome dele nunca fora mencionado em nenhum dos depoimentos que o senhor fez por isso esta teoria foi descartada por nós, mas o que é certo é que a senhora Lilia tem aquela marca na nuca e isso pode ter acontecido na noite de Sintra já que disse que ela se encontrou com vocês e aconteceu aquilo que já nos está farto de dizer.
- Estão a querer culpar-me por aquilo que ela fez? Aquilo que lhe aconteceu foi castigo pelo que nos fez naquela noite. O namorado fez justiça, tenho pena dele que foi preso por quem não merece nada.
- Ainda há pouco tempo eram os melhores amigos e agora já não merece nada? As coisas estão cada vez mais confusas para nós. O senhor contradiz-se a cada momento que passa. É assim Guilherme, nós não temos nada que o incrimine, por isso não podemos para já tomar medidas mais drásticas mas vamos continuar a averiguar a situação. Vamos confrontar o senhor Ivã e a senhora Lilia mas uma coisa é certa, isto vai ser tudo esclarecido nos próximos dias, o mais tardar nas próximas semanas não é bom para ninguém continuarmos mais a enrolar esta história, está na hora de partir para outra e arquivar esta situação de uma vez por todas.
- Eu não fiz nada senhor agente. – Disse Guilherme muito passivamente, embora por dentro estivesse extremamente nervoso.
Quando saiu da esquadra sentiu vontade de bater a si próprio. Ao agir de cabeça quente deixou escapar pormenores bastante importantes que o podiam deixar em maus lençóis. O que importava agora era não ser apanhado, a polícia não podia descobrir o que realmente se passou, mas com isso estava mais descansado pois confiava no silêncio de Lilia.
