Hoje, às 22h18, a RTP1 emite o 2º episódio da mini-série "4", que tem ido para o ar às quintas-feiras à noite. Independentes entre si, mas ligados pelo tema comum “Portugal Hoje”, os filmes partem da seguinte premissa: quatro dos escritores mais representativos da nova geração aceitaram o desafio e escreveram livremente, cada um, uma história que representa a sua visão de autor sobre o Portugal contemporâneo.
Esta semana vemos o trabalho de Pedro Mexia, o filme “Bloqueio”. Nesta história, Miguel, o protagonista, precisa de outras oportunidades, de outras experiências, e por isso inventa uma crise. Uma crise conjugal. Ele tem quarenta anos e um casamento estável, talvez não feliz, mas não em crise. Sente no entanto necessidade de inventar uma crise, através de ciúmes infundados, apenas porque quer um alibi para sair de casa, para variar, experimentar.
Rita, a mulher de Miguel, é fotógrafa ou arquiteta, sabemos que trabalha num projeto sobre as mudanças na cidade, e seguimos os seus trabalhos, que estudam uma Lisboa que muda, que está portanto «em crise», como estão as cidades, por definição. Ela compara fotografias da Lisboa antiga e moderna, como podia comparar um antes e um depois na vida das pessoas, na vida de um casal, por exemplo. Ela sente que o seu casamento não está bem, mas não se trata certamente de uma crise, ela não quer nenhuma «oportunidade», exceto uma oportunidade para emendar o que está mal. Miguel, cujo estatuto profissional é incerto, perde demasiado tempo com fantasias, conjeturas, e por isso provoca uma rutura de que aliás se virá a arrepender.
O filme começa com um ataque de ciúmes, Miguel a revistar a casa à procura de alguma prova da infidelidade de Rita. Esta apanha-o em plena devassa, confronta-o, e percebe rapidamente que ele anda à procura de um motivo, ainda que falso, de acabar o casamento, invocando uma “crise” que o liberte. Miguel ainda nem pensou bem no que está a fazer, quando se defende percebemos que agiu sem refletir, que está inquieto, indeciso, nervoso.
Filipe, amigo do casal e colega de Rita, incentiva Miguel a fugir à ideia de crise, explica que o mundo atual está cheio de «oportunidades», e que não é preciso abdicar de uma coisa para ter outra, há que aproveitar tudo o que está ao nosso alcance. A «crise» na cabeça de Miguel é uma ideia antiga, trágica, e Filipe sente-se mais à vontade numa conceção moderna do mundo, hedonista e lúdica.
Explica ao amigo que a própria ideia de «fidelidade» pertence a um mundo que passou, e que entretanto Portugal viveu uma «revolução sexual», que chegou muito tempo depois da revolução política, acabou a tragédia, a nova geração encarna um mundo de possibilidades fáceis, acessíveis. Filipe diz que Miguel deve aproveitar isso, e fala das novas mulheres portugueses, que segundo ele são sexualmente disponíveis e se chamam todas Joana. Daí que os amigos conheçam duas raparigas novas, aparentemente disponíveis, e que se chamam, efetivamente, Joana.
Entretanto, Rita refugia-se no seu trabalho para evitar as agruras conjugais. Mas a história da cidade, que ela documenta, é demasiado parecida com a história das relações entre as pessoas, o que a assusta um pouco. E também se assusta quando conhece um homem numa galeria de arte, e o homem se convence de que ela se mostrou recetivo aos avanços dele. Ao ser confrontada com a «crise», Rita pergunta-se se não estará, por seu lado, a dar sinais de que está em crise.
Entretanto, Miguel mete conversa com uma rapariga que lhe bloqueou a saída do carro, uma rapariga que também se chama Joana. Rita assiste à cena, que acaba com Joana 3 a dar o número de telemóvel a Miguel, e fica convencida de que a crise é «real», de que há «outra mulher». Pior ainda, usa por engano uma “pen” de Miguel e descobre uma fotografia de Joana 2, que Miguel fotografou por graça. Rita decide que o casamento acabou, mas Miguel não percebe nada disto, e sai de casa para um encontro com Joana 3 num parque de diversões.