“Uma imagem vale mais do que mil palavras”, é o que costuma dizer-se a propósito do valor das ilustrações, imagens e fotografias, quando alguém tenta descrevê-las. The Big Picture seria isso mesmo: uma grande imagem na televisão, capaz de fazer a diferença na lógica dos concursos televisivos de cultura geral. As imagens não falam por si, e para compensar existe uma aplicação interativa que dá prémios em casa. Pedro Fernandes apresenta como só ele sabe.
The Big Picture é a nova proposta da RTP para o horário-nobre semanal, um sucessor por afinidade de Quem Quer Ser Milionário – Alta Pressão, apresentado por José Carlos Malato. No concurso que anima a programação do serviço público, Pedro Fernandes é o rosto ideal. A espontaneidade, carisma, humor e profissionalismo mantêm-no coerente com o registo que tinha no 5 Para a Meia-Noite e são qualidades capazes de agradar ao público de terceira-idade que povoa o horário. Contando com isso, basta esperar uma hora de muitas perguntas de cultura geral para entreter e educar o público, organizadas num jogo de 12 níveis em que o concorrente em estúdio pode ganhar até 50 mil euros.
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O concurso de nova geração privilegia a componente visual dos ecrãs, que é como quem diz, as imagens (pictures). Para espanto do telespetador mais distraído, o que é certo é que a maioria das perguntas poderia fazer-se sem as imagens que as acompanham. Talvez por isso ocupem um espaço reduzido no grafismo e não sejam decisivas para formular as perguntas – exceção feita aos níveis superiores, em que o concorrente vê a imagem durante 15 segundos e então decide se continua em jogo ou desiste.
Qual será o rasgo de inovação? A aplicação móvel, um software concebido exclusivamente para o programa e que uma vez instalado nos smartphones permite a qualquer jogador de sofá distrair-se com mais um ecrã tátil. A app permite conciliar o consumo de televisão linear e passivo com a tomada de decisões em tempo real noutra plataforma. Por outras palavras: permite ao jogador em casa ganhar dinheiro, se tiver a sorte de a sua resposta certa ser a escolhida como uma das três ajudas que o concorrente em estúdio pode usar se não souber a resposta. Contas feitas – e Pedro Fernandes não se cansa de o anunciar – “em casa pode ganhar até mais do que o concorrente em estúdio”.
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A app confirma assim o interesse da RTP em manter-se a par da inovação tecnológica no grande entretenimento, completando a oferta de outras aplicações como a RTP Play e The Voice Portugal. Já a 5i RTP, promovida com entusiasmo pela anterior administração de Alberto da Ponte como “a maior inovação tecnológica dos últimos 10 anos”, parece ter sido apagada do mapa, tanto assim que no 5 Para a Meia-Noite a interatividade com os espetadores se ficou pelas redes sociais.
The Big Picture é produzido pela Shine Iberia, num esforço conjunto com a estação pública para atrair novos públicos ao horário mais valioso da televisão. A estreia fixou apenas 667 mil pessoas, tendo ficado ausente do Top 10 dos programas mais vistos do dia – mas já se sabe que um novo programa dificilmente chega e conquista, apesar de corresponder ao que o público se habitou a ver depois de jantar. A interatividade do second screen funciona, assim, como um argumento de duas forças: ou atrai audiências jovens nativas do digital, ou afasta as audiências tecnologicamente menos experientes. Uma coisa damos por garantida: o entretenimento da televisão portuguesa está a mudar.
The Big Picture, para ver de segunda a sexta-feira por volta das 21h, na RTP.
Duplo Clique - Edição 72
Uma crónica de André Rosa
