CAPITULO 50CAMILA Era o Dia Aberto da Geografia no GPO. Era o dia em que alunos de várias escolas da região passavam pela faculdade e eram apresentados os cursos leccionados, as instalações e eram praticadas diversas actividades que os alunos do secundário poderiam fazer ao longo do dia. Esta actividade existia para promover a faculdade e para angariar novos alunos no ano seguinte. E era essa a razão de Camila gostar tanto do Dia Aberto da Geografia, o de trazer novas pessoas até ao recinto da faculdade. A rapariga apaixonada por mexericos tinha um dia onde acontecia de um pouco de tudo. Existiam os alunos bem comportados que não causavam problemas, mas no meio havia aqueles que Camila mais gostava, os que não conseguiam passar um dia sem causar um reboliço onde quer que fossem.
Camila estava encarregada, com Madalena, Ivo e mais dois colegas, de um dos cinco grupos de alunos que visitavam a faculdade. Era um grupo de dez alunos que vinham de uma escola secundária localizada na periferia da cidade. Estavam todos reunidos à entrada do edifício quando o director do GPO chegou para fazer o seu discurso de boas vindas aos alunos convidados. Para Camila aquilo era uma grande seca. Não suportava ouvir o director cuspir sempre as mesmas palavras todos os anos, então optava por observar os alunos que faziam parte do seu grupo. Quando os observou a todos deu uma cotovelada a Madalena para ela lhe prestar atenção.
- Olha-me para aquele ali, tem mesmo ar de drogado! Se vem estudar para aqui ainda temos outro delinquente como o Guilherme. É melhor fazermos com que ele não goste disto aqui, para o ano que vem é o nosso ano final e eu não quero que a faculdade seja o rebuliço que foi este ano.
- Está calada, olha que o director está a falar! – Dizia Madalena baixinho, quase sem se ouvir.
- Eu quero lá saber do que o homem está para aí a dizer! Já o ano passado repetiu a mesma treta. Eu quero é que comece a diversão. Trouxe o meu caderno e tudo! – Declarou Camila com um sorriso de orelha a orelha. Conseguia estar mais excitada que nos outros dias. – E olha ali um gajo perfeito para o Ivo, não achas companheiro?
- Claro, companhia para um menáge contigo. Admite, o teu sonho é levares comigo e com aquele ali ao mesmo tempo. – Declarou Ivo ao olhar para o rapaz com pequenos tiques afeminados.
- Vamos lá meninos, não desçam o nível, hoje não! Daqui a pouco somos repreendidos pelo director.
- Um menáge com vocês os dois, deveria ser engraçado, quando desse conta estavam a brincar um com o outro e eu era posta de lado. Quando namorar vai ser com um homem a sério, não com um gayzinho com cabelo cor-de-rosa e com tatuagens de borboletas no braço como tu ó amostra de homem.
Ivo silenciou a rapariga com um beijo inesperado que deixou todos de olhos postos neles.
- Meninos! – Exclamou o director. – Primeiro o vosso burburinho irritante e agora estas demonstrações de afecto no discurso de apresentação? Não estão a dar um bom exemplo ao vossos futuros possíveis colegas.
- Isso é porque de possíveis a futuros vai uma diferença grande senhor director. Basta eles entrarem ali dentro daquela barraca para deixarem de ser futuros e passarem a ser apenas possíveis. Já viu as condições que esta espelunca tem? – Balbuciava Camila.
- Mas será que ninguém me cala esta rapariga! – Dizia o director sem saber o que fazer.
- Prometemos que não se voltará a repetir professor. – Declarou Madalena um pouco envergonhada com o comportamento dos seus dois amigos.
O resto do discurso correu sem interrupções, embora Camila e Ivo continuassem com as suas picardias. A rapariga ficara irritada no momento em que soube que ele estava no seu grupo. Irritava-lhe a sua maneira de ser, era sempre tão prestável e disposto a ajudar os outros e depois aquele seu visual deixava-a num misto de emoções. Não sabia se havia de chorar ou rir com aqueles seus trajes. E o que diziam sobre as loucuras sexuais dele deixavam-na enjoada. Desde que soube daquela aventura com Afonso que mal conseguia olhar para ele, sentia-se com vontade de lhe arrancar os cabelos rosa que ele tinha. Sentia vontade de bater em Madalena quando ela dizia que aquilo era amor, aquilo que ela sentia era tudo menos amor, ela não era rapariga para se apaixonar.
Com o fim do discurso, os alunos responsáveis por cada grupo deslocaram-se até eles. Cada grupo iria para uma sala onde um professor os esperava para fazer uma apresentação sobre um determinado tema. A primeira sala para que o grupo de Camila se deslocara fora a sala de informática. Nela Rodrigo os esperava para os alunos interagirem um pouco com os mecanismos para a elaboração de um mapa. Iriam usar um programa informático chamado ArcGis e num nível de facilidade elevado iriam criar um pequeno mapa da região de Lisboa.
- Viemos logo calhar na sala do teu affair. – Dizia Camila para Madalena. Quando queria conseguia ser mesmo inoportuna.
- Sabes que isso é passado! Nem sei se vou aguentar se ele me mandar mais umas quantas indirectas como tem mandado nas aulas. Hoje não somos professor e aluna e eu já estou prestes a explodir. – Dizia Madalena enquanto caminhava para a sala que se encontrava ao fundo do edifício.
Quando lá chegaram os dez alunos do secundário sentaram-se cada um no seu computador enquanto os cinco universitários que os seguiram ficaram encostados à parede. Eles iriam andar de computador em computador a ajudar os alunos com os mapas mas enquanto Rodrigo falava eles permaneciam ali parados. Rodrigo não tirava os olhos de Madalena enquanto discursava, isso estava aos olhos de todos, em especial de Camila. Quando Madalena lhe contou da lista telefónica de Rodrigo a rapariga rapidamente espalhou tudo pela faculdade deixando o professor de informática e estagiário do instituto um pouco mal visto. Algumas raparigas, tal como Madalena, chegaram a bater-lhe quando souberam que ele andava a enganar meio universo feminino do GPO. Desde então ele olhava-a de lado e o ambiente entre eles não era o melhor, ela arruinara-lhe as suas conquistas.
- Sabem meninos, isto é um bom instituto para se estudar mas cuidado com as companhias, principalmente raparigas que podem ser completamente ridículas.
Madalena não se conteve e avançou até à frente dos alunos lado a lado a Rodrigo.
- E vocês meninas, tenham cuidado com os predadores que por aqui andam. Não dêem muita lábia a esses marmejos que não perdem uma única oportunidade de vos levar para a cama mas depois da grande queca deixam-vos e partem para outra que tenham em linha.
Ivo metia a mão na cara sabendo que aquilo não ia acabar bem, mas Camila estava completamente extasiada a ver aquele espectáculo que Rodrigo e Madalena estavam a dar.
- Eu pensava que vínhamos ver uma faculdade mas acabamos por vir ao circo. – Ouviu um dos alunos a dizer para outro. Não podia estar mais de acordo. Ainda era cedo mas o dia estava a ser bastante divertido para Camila. Enquanto isso os dois continuavam a dizer disparates à frente de todos.
- Tenham cuidado com os vossos telemóveis, alguma gaja traiçoeira pode rouba-lo por uns momentos para ler as vossas mensagens enquanto nós estamos distraídos e depois inventam coisas surreais para nos dar uma lição.
O barulho que se fazia na sala fez chamar a atenção de várias pessoas em especial do director que rapidamente entrou pela sala para ver o que se estava a passar.
- Outra vez o vosso grupo? Mas querem arruinar o dia a estes jovens? Eles estão cá para verem como este pode ser um local acolhedor e vocês dão esta imagem da faculdade?
- Desculpe Doutor Francisco. Acho que nos excedemos um bocado. – Desculpou-se Rodrigo.
- É, eu também estou de acordo consigo. E acho que o melhor é a senhorita Madalena ir até lá fora apanhar algum ar puro e deixar esta actividade correr pelo melhor. – Aconselhou o professor.
Madalena saiu da sala e os ânimos acalmaram-se. Rodrigo fez a sua apresentação sem qualquer percalço. Quando os alunos começaram a fazer os mapas, Camila, Ivo e os outros dois colegas andavam de mesa em mesa a esclarecer dúvidas que existissem nos jovens do secundário.
Depois desta primeira actividade houve a pausa para o almoço. Os responsáveis por cada grupo de alunos levaram-nos até à cantina onde almoçaram todos. Camila sentou-se ao lado de Madalena e iniciou a conversa:
- Bem deste um espectáculo e tanto!
- Um espectáculo deprimente, queres tu dizer. Mas não estava a aguentar aquilo, ele estava-me a picar como sempre, eu não conseguia mais ficar calada ao ouvir aquilo que ele me dizia.
- Fizeste bem, aquele gajo precisava de uma lição! Tem o pau sempre pronto para dar uma facadinha, mas quando uma mulher o desmascara passa a ser uma rameira. Acho que se não tivesse espalhado a história desse engatatão até à cueca daquelas que parecem umas pitinhas que entraram este ano na faculdade ele tinha ido.
- Chega de falar em quem não interessa, se não daqui a pouco estou a deitar o comer todo para fora e preciso de ter forças para o resto da tarde.
Enquanto conversavam Camila nem reparou que Ivo se sentara perto delas mas deu um pulo quando o ouviu a sussurrar ao seu ouvido.
- Ó meu grande palhaço vai assustar quem te fez as orelhas! – Gritou Camila fazendo os alunos do secundário olharem para ela.
- Adoro todos os teus elogios! Fazem-me sentir a melhor pessoa do mundo. Tu falas mal de mim e picas-te quando estou ao teu lado. Isso deve querer dizer alguma coisa. Não achas Madalena?
- Eu prefiro não me mencionar sobre esse assunto.
Com o inicio da tarde, iniciaram-se as restantes actividades que estavam delineadas pelos professores para os grupos de alunos. Camila pensava como é que os alunos poderiam pensar que no curso de Geografia e TOGI só se aprendiam os países e as suas capitais. Muitos ficaram estupefactos quando entraram numa sala e viram um monte de rochas em cima das mesas. Iam ter a actividade da Geografia Física. A Geografia Física tinha a mesma base do que os alunos do secundário estudavam em biologia, o que os deixou perplexos. Madalena e Ivo explicaram aos alunos que aqueles dois cursos abrangiam e estudavam vários temas muito além de se ter de saber capitais e a localização dos países. O objectivo dos cursos era perceber o território, saber algumas leis relacionadas com o ordenamento do território, os programas de desenvolvimento local e regional. Madalena acabou por dizer que estariam ali uma tarde e não tinham tempo para dizer tudo o que havia a dizer sobre os cursos leccionados no GPO deixando os alunos curiosos.
Depois de uma manhã agitada, a tarde correu sem qualquer incidente deixando os alunos do secundário com uma ideia agradável sobre o estudo na faculdade que visitaram. Camila preferia uma tarde parecida com a manhã mas o seu director agradeceu por isso não ter acontecido.