Capítulo 41 - Epílogo (Final)
Enquanto corro a brisa do ar acalma-me! Nunca me tinha sentido livre até há dez meses atrás. É sem dúvida a melhor sensação do mundo! Respiro fundo e penso no Will. Tenho de lhe agradecer a ele por ainda poder estar aqui a olhar para estas gigantes árvores. Estou com o bilhete que ele me escreveu na mão. Não o consigo ler sem verter uma lágrima. Olho para ele mais uma vez e leio:
“Quando vi aquele abraço entre ti e a tua mãe eu percebi que não podias morrer, nós queríamos salvar o mundo, mas iriamos destruir o dela! Quando leres isto, provavelmente eu não estarei aqui para comemorar com todos vocês, mas esteja onde estiver, estarei feliz, feliz ao saber que o meu sacrifício fez com que tudo acabasse bem e que tu abraçarás a tua mãe outra vez! Eu não salvei um mundo, Adão, eu salvei dois! Eu salvei o nosso mundo e o teu, e apenas te peço uma coisa: sê feliz, muda o mundo que eu salvei, a paz antes de George era camuflada, a paz era uma miragem, nunca existiu a paz eterna no mundo! Acredito que isso nunca existirá, o ser humano é feito de interesses e quando os seus interesses divergirem do seu vizinho eles irão entrar em conflito, levando as suas crenças, as suas filosofias avante, portanto, se um dia ouvires falar de guerras, crises, ataques, não esmoreças, não penses que estarei triste com a escolha que fiz. Não é um homem que vai conseguir mudar a mente de um milhão, apenas quero que mantenhas a paz no mundo em que eu pensei na altura em que estava a escrever esta carta que te deixo agora. Apenas não deixes a paz falhar em Vale do Fim, àqueles que te rodeiam e te amam!”
Limpei os olhos quando acabei. Lia aquelas ultimas palavras de Will sempre sozinho. Tentava mostrar-me forte, não queria chorar à frente dos outros, mas era difícil às vezes. Ouvi o Santiago dizer que poderia haver uma segunda sala de controlo. Foquei-me nisso. Acho que o Will ficaria sem dúvida orgulhoso se eu descobrisse e acabasse com uma segunda sala que pudesse controlar os híbridos. Todos os dias deslocava-me ao avião supersónico que estava abandonado na floresta. George certamente escondia segredos no aparelho. A tecnologia era bastante avançada, mas infelizmente não me tinha dado ainda nenhuma pista sobre a existência de uma outra divisão que mantivesse hardware e software de controlo dos chips implementados no pescoço dos clones. A única medida de prevenção que podiam tomar era retira-los da maioria e deixar apenas em alguns para estarem atentos a movimentos suspeitos. O Santiago é inteligente, sei que ele vai saber como atuar se alguma vez existir essa reviravolta.
O meu telemóvel tocou. Era a minha mãe. Passei tanto tempo naquele avião supersónico que nem dei pelas horas passarem. Deve ser praticamente hora de almoço. A mãe gosta sempre que almocemos em casa, eu ela e pai. Gosto de a ver feliz. Talvez se o Will conseguir ver o sorriso dela, onde quer que ele esteja, isso o irá fazer sentir com o objetivo de missão cumprida.
Atendi! Era exatamente por causa do almoço. Corri para casa, mas parei de imediato, quando vi o carro do meu pai parado na entrada da floresta. Quando cheguei ao pé dele, ele estava visivelmente emocionado, chorava como se fosse um bebé. Agarrou-se a mim e eu não percebia o que se estava a passar, mas apenas percebo uma coisa, ele está a chorar de felicidade. Percebo isso quando ele chora e ri ao mesmo tempo.
Fiquei feliz quando ele disse a razão para estar naquele estado, quando estávamos os três sentados à mesa. E fiquei emocionado quando ele falou da ação do Miguel. Isso fez-me quase chorar também. Ele era um verdadeiro amigo, ele não se iria sujeitar ao teste da cura apenas para que eu não me sentisse sozinho. Ao mesmo tempo, isso fez-me ficar cabisbaixo. O Miguel andava triste porque a Luna lhe tinha pedido um tempo. Ela não lhe contou que a razão dessa separação era eu, e isso deixava-me triste. Era eu uma das razões que estava a fazer o meu amigo sofrer. Desde que estou aqui começo a aprender muitas coisas, e uma delas é que nem mesmo eu posso controlar o que o meu coração quer. Provavelmente nem o George seria capaz de criar algo que pudesse controla-lo. É fácil controlar a mente, moldar os pensamentos a alguém, mas é difícil fazer mudar o que uma pessoa sente. Eu queria muito estar com a Luna, mas afastei-me, tal como o meu melhor amigo eu abdiquei de algo que queria muito para o ver feliz, para que a nossa amizade fosse maior que qualquer romance adolescente.
Quando terminei de almoçar, peguei no meu telemóvel e liguei-lhe. Era o meu dever felicitá-lo pela decisão que tinha tomado, pela escolha que tinha feito por si. Não era qualquer ser humano que faria o que ele tinha feito, e era preciso agradecer-lhe.
- Não tens de quê, meu companheiro, meu irmão do coração! Mas vais ficar uns tempos sozinho, vou sentir saudades dos nossos treinos meu camarada! – Disse o Miguel deixando-me confuso.
Ele contou-me então que iria partir mais a mãe e o Raul para uns meses de voluntariado, fazia-lhe bem ter novas amizades, novas raízes, novas aventuras. Ele sabia há quase uma semana. mas não me disse nada porque não gosta de despedidas. É mais uma coisa que temos em comum, mas não pude deixar de ficar triste quando desliguei o telefone.
Sinto alguém a sentar-se ao meu lado na cama e a por o braço no ombro.
- A Joana disse que o Miguel não queria dizer nada, não te queria ver triste! – Disse a minha mãe. – Mas ele vai voltar. Não lhe dou nem três semanas para ele voltar para Vale do Fim, com quem é que ele vai gastar aquela energia toda, com quem é que ele vai competir.
A minha mãe estava a tentar animar-me, mas no fundo também ela estava triste. O Miguel era como um filho para ela, viveu praticamente a sua vida com ele, e agora ele iria embora por uns tempos.
- Tens razão mãe, ele vai voltar! – Disse com um sorriso no rosto e limpando as lágrimas que ainda estavam no meu rosto.
Saí de casa e corri novamente, fui até à casa do Miguel, mas ele já não estava lá, provavelmente já estava a caminho de Lisboa quando eu lhe telefonei. Corri novamente e fui até ao anexo onde a Lígia e o Edgar se encontravam. Eu precisava de eles vivos, precisava do apoio que eles me deram desde pequeno.
Quando saí de lá o meu telemóvel tocou. Admirei-me, era a Luna. Estava triste por o Miguel ter-se ido embora sem lhe dizer nada e sentia-se culpada porque ela podia ter contribuído para aquela decisão. Pensei no mesmo, o término da relação podia ter dado naquilo.
Não estava com cabeça para mais nada, por isso fui para casa e deitei-me. Tentei dormir, mas foi difícil adormecer com todos os pensamentos que flutuavam na minha mente. Os meus pais jantaram, mas eu não, não tinha apetite. Fiquei deitado a olhar para o teto. Até que o som de uma pedra a bater na minha janela me fez levantar da cama. Era a Luna, ela estava ali.
Desci as escadas a correr e fui ter com ela à rua.
- O que estás aqui a fazer? – Perguntei, mas ela agarrou-me no braço sem nada dizer, fazendo ter-me um dejá vu do que tinha acontecido antes de destruir a Área X.
Ela levou-me exatamente ao mesmo lugar, o lugar onde a nossa historia começou, o lugar onde eu a salvei.
- Tu estás perfeita esta noite! – Elogiei-a ficando depois corado e ela riu-se.
- Danças comigo? – Perguntou ela enquanto eu olhava para o rio, vendo o rosto belo dela espelhado nele.
Ela colocou a música no telemóvel, e a dança começou. Dançávamos no escuro, enquanto o luar nos iluminava.
Com a minha força peguei nela e atirei-a ao rio, correndo velozmente para a apanhar.
- Não me voltes a fazer uma coisa destas, Adão Manuel! – Disse ela fingindo estar chateada, mas eu acabei por tropeçar e cair à água. Ela caiu em cima de mim.
Aí foi inevitável. Os nossos lábios se tocaram e eu não consegui pensar em mais nada, nem no George, nem no Will, nem no Miguel. Apenas sabia que a queria. Ela era aquilo que eu precisava para ser perfeito.
Fomos para casa. Antes de me deitar fui até ao quarto dos meus pais. Olhei para eles, os dois projetos que me deram vida, os dois seres que se apaixonaram que lutaram que quase se sacrificaram para que as suas vidas agora fossem assim. Eu não poderia pedir mais, eu já não era aquele menino trancado numa cela na Área X, eu era livre, eu era feliz!
Deitei-me e fechei os olhos, nessa noite não pensei em nada, apenas que tinha tudo o que precisava, e era tão feliz dessa forma!
FIM